segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Larga do meu pé, jacaré, ou deixem os Campos de Dunas do Peró em Paz


Verde que te quero verde


Juarez Lopes

O grande embate que se anunciava nas décadas de 70 e 80, quando Cabo Frio foi precursor, em nível estadual, da tentativa da revelação de uma consciência ecológica, a chamada ecologia profunda, chegou. A cidade de Cabo Frio é, atualmente, o foco (ou seria alvo?) das atenções dos grandes investidores, antes travestidos de especuladores imobiliários, só que, como o filme queimou, agora se apresentam como investidores em eco-sustentabilidade. A arrogância é tanta que um dos seus principais representantes, o chefe da tribo, o Robredo Ambrófilo, em um dos seus encontros, num desses balcões de negócios, falava:

“... vejam só, nobres senhores, aqueles ambientalistazinhos querem interromper um ‘negócio’ de R$ 500.000.000 (quinhentos milhões de reais), só porque na nossa área tem uma plantinha, uma tal de jaquinia, e o que é pior, tem um tal de um passarinhozinho, acho que o nome dele é formigueiro do litoral, que faz uns buraquinhos por lá, e eles, os tais ambientalistas, querem proteger. Ora amigos, eu vos pergunto: esses ambientalistas se preocupam com a favela do buraco do boi? Se preocupam com as invasões da APA de Massambaba?”

A fala desse digníssimo representante poderia se encaixar na boca de qualquer um desses grandes personagens da recente história mundial, aqueles que pregaram o apartheid, o absolutismo, o racismo, a raça pura, o ódio pelo outro, ou seja, o discurso único, a vaidade, o preconceito, a falta de conhecimento, a insensibilidade.

Senhor Robredo Ambrófilo, se o senhor não sabe, não estamos diante de um lugar qualquer, de um valor qualquer, de uma equação pura. Estamos diante de um patrimônio público mundial. Algo que é capaz de gerar tudo que o senhor propõe, com uma significativa vantagem: é pra sempre. Inalienável. Indissociável. Geradora de sonhos, como os que sonhou Albert Einstein.

O campo de Dunas do Peró, nosso maior patrimônio, não se fez por manipulação genética, por negligência administrativa. Quem o fez, fez com muita categoria e sapiência. Deixe-o em paz, por favor! Afinal, “... de que me serve um saco cheio de dinheiro, pra comprar um quilo de feijão?”



*Engenheiro Civil, sanitarista e ambientalista

Nenhum comentário: