segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Diálogo entre Deus e um cientista ateu

História & Sociedade


José Francisco de Moura


O ateu acabara de morrer. Tratava-se de um grande cientista, um biólogo renomado que buscava como um louco descobrir a cura para o câncer. Ele não acreditava em vida após a morte e muito menos em Deus.

Qual não foi sua surpresa ao notar que estava vivo após ter morrido, mas com um outro tipo de corpo. Mas a surpresa não ficou por aí. De repente, viu uma grande luz e ouviu uma voz forte: “Olá, meu filho”. Assustado, o ateu perguntou: “Quem é você?”. “Sou Deus”, disse o ser iluminado. “Então o Senhor existe?”, perguntou o ateu assustado. “Sim, mas você nunca acreditou em mim”. O ateu respondeu: “Não havia provas suficientes. Muitos diziam que o Senhor era um velho rabugento, outros que existiam vários deuses, outros que o Senhor era só uma energia. Ninguém tinha provas de nada, só falação vazia, só interesses materiais, fanatismo e loucura irracional”, completou. “Sim, nisso eu tenho que concordar com você”, respondeu Deus.

Entusiasmado com o papo, o cientista ateu, sempre com fome de conhecimento, foi logo perguntando: “O senhor criou o Universo? Os evolucionistas estavam errados?” . Deus olhou com compaixão para o ateu e disse: “Eu criei os mecanismos para que a evolução se desse e o mundo se auto-regulasse. Criacionistas e Evolucionistas estão errados e certos ao mesmo tempo”, respondeu Deus. Encantado com a resposta, o ateu disse: “Mas se o Senhor criou tal complexidade que é o universo o senhor é um grande cientista, o maior de todos. Sabe, então, que necessitamos de provas e evidências para chegarmos às verdades”. “Sim, eu sei”, completou Deus.

Querendo continuar a se justificar por não ter acreditado em Deus quando vivo, o cientista ateu continuou a dar vazão aos seus argumentos. “Olha, Senhor, lá na Terra sempre teve muita gente se dizendo seu intermediário e falando em seu nome. Criaram mil e uma religiões e templos onde dizem que o Senhor está. Muitos cobram dízimos dos fiéis dizendo que é para a sua casa”. Deus, então, olhou sério e disse: “Meu filho, se eu criei o universo você acha que eu preciso de dinheiro, essa coisa suja que vocês inventaram e que por ele fazem qualquer atrocidade com seus irmãos?”. “Claro que não”, completou o já encantado ateu. “Mas e os que estão lá falando em seu nome? E os que afirmam que só quem segue a fé deles chegará ao Senhor?”, insistiu o ateu. “Para esses Eu tenho o pior dos castigos. Vão ficar muito tempo com o meu parceiro, o Diabo”.

O ateu quase caiu da cadeira de plasma onde estava ao ouvir aquilo. Perguntou quase imediatamente: “O Diabo existe? Ele é seu parceiro? Sempre ouvi dizer o contrário’. “Sim, ele existe, ele me poupa de conviver com muita gente detestável, dentre elas os que dizem falar em meu nome sem que eu tivesse dado permissão para isso e sem que se preocupassem verdadeiramente em melhorar os corações e mentes. Eu dei a razão para vocês para que a usassem e não para que criassem mil superstições em meu nome. Aqueles que ajudaram a suprimir a razão das mentes em nome de uma fé louca e cega em algo que nem provas tinham da existência serão os mais cobrados”.

“E quanto a nós, cientistas? Na Terra 91 % dos cientistas não acreditam no Senhor”, perguntou o ateu de forma tensa. “Se não acreditaram em mim falta de provas, por desconfiarem dos mercadores da fé que falam em meu nome, não tem problema. Se forem bons com o próximo e tentaram ajudar a humanidade com suas pesquisas, então são como se tivessem acreditado”, responde Deus.

O ateu aliviado, então, perguntou: “Então posso ficar por aqui? Posso ficar próximo do Senhor?”. “Sim, meu filho, tenho aqui um lugar para que você continue suas pesquisas, agora em um outro nível”. E abriu uma porta onde centenas de milhares de outros cientistas trabalhavam, uma espécie de laboratório celeste. “Uau”, gritou o cientista: “Vou poder continuar meu trabalho. Imaginava que o paraíso era um tédio só, um lugar que tinha de tudo que precisávamos e que só teríamos que ficar louvando o senhor eternamente. Alguns diziam que tinham até virgens esperando por eles”. Deus riu e completou: “Você acha que minha vaidade é tamanha que preciso que fiquem eternamente me louvando? Você acha que eu criaria um paraíso para vagabundos, um lugar onde ninguém trabalha? Aqui se trabalha, e muito. Só que não há cansaço. Quanto às virgens e outras coisas que inventam ter por aqui, é porque essa gente da Terra transfere para o cá seus anseios materiais e carnais, seus piores desejos”.

Impressionado com a resposta, o cientista entrou na sala e foi logo se ambientando com os colegas. Em pouco tempo, feliz e contente, já estava envolvido em mil tarefas celestes. Aqueles que mais falavam de Deus não foram vistos no paraíso. Os cientistas apenas imaginavam onde deviam estar.




*Professor de História e Doutor em História da Grécia

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