sábado, 24 de maio de 2008

Dossiê Meio Ambiente



por thiago freitas


Assim escreveu Luis Fernando Verissimo: “Há anos este anti-Quixote enfrenta os depredadores da natureza e os que sacrificam o meio ambiente pelo lucro na sua região, e tem vencido a maioria destas batalhas com sua combinação de idealismo, garra e persistência. (...) A única coisa quixotesca no Galiotto é que, como o personagem de Cervantes, ele também encarna a figura fascinante de um guerreiro com alma”. Este texto consta no prefácio de “Natureza Intacta & Agredida – 30 anos de luta ambiental”, do ativista Ernesto Galiotto, e sintetiza poeticamente as mais de 360 páginas seguintes da obra, que será lançada no dia 7 de junho, às 15h30, no Espaço Cultural e Ambiental Érico Verissimo (ECAEV), em Tamoios, Segundo Distrito de Cabo Frio. O lançamento contará ainda com a presença ilustre do próprio autor do prefácio.

O livro por si só constitui um dossiê a respeito da degradação ambiental praticada ao longo de 30 anos na Região dos Lagos e outras localidades do Estado do Rio de Janeiro, como a própria Cidade Maravilhosa e sua vizinha, Niterói. Como o título da obra denuncia, mostra, em quase 400 imagens, o antes e depois de paisagens naturais: intactas e agredidas. Em uma dessas imagens, por exemplo, dispostas paralelamente, fica comprovada, sem margens para contestação, a morte agonizante do mangue onde hoje está instalado o Parque Municipal Ambiental Dormitório das Garças, em Cabo Frio.

Para ser lido em um só fôlego

Embora seja constituído de muitas imagens, não falta emoção ao livro, que respira idealismo, altruísmo, poesia e ação, com algumas histórias que lembram os filmes hollywoodianos. Numa delas, em 1997, Galiotto “arma-se” de um helicóptero, máquina fotográfica e seis jacas (isso mesmo, você leu certo, sei jacas). Tal como um agitador ecológico, arremessou as frutas de cima do helicóptero, que chegavam ao solo pesando 15 toneladas cada uma, por influência da gravidade. O alvo era um terreno no Segundo Distrito, onde se praticava a extração ilegal de areia. Funcionários abandonavam tratores e caminhões correndo em desespero. Um areeiro chegou a fazer queixa à Polícia Federal. Disse que as “bombas” estremeciam toda a cidade e acusou o ambientalista de portar um “fuzil” (que na verdade era apenas a boa e velha máquina fotográfica).



“Natureza Intacta & Agredida” reúne ainda uma coleção de polêmicas, embates judiciais travados pelo ambientalista, com centenas de representações ao Ministério Público Estadual e ao Federal, fábulas escritas por Galiotto e inúmeras histórias de denúncias e ameaças.
- O livro é uma verdade reta, sem curvas. Quero dizer que é um documento que mostra como nossas autoridades e a sociedade vem tratando a natureza. As fotos não deixam margens para argumento. Está ali a prova. É só olhar. Fica claro que pela maneira que avança a depredação do meio ambiente, se não tomarmos consciência de que é preciso parar, dentro de muito pouco tempo não vai sobrar muita coisa para contar história. É só ver como estavam essas regiões, principalmente Búzios, 12 anos atrás, e como estão agora. Pense isso 12 anos para frente, estará pior. É esta a importância do livro, fazer este alerta – diz o autor.


Quatro toneladas de fé
na educação ambiental


Há anos Ernesto Galiotto é conhecido por combater os crimes ambientais usando recursos simples: sua máquina fotográfica, o pequeno monomotor, batizado de Mico-leão-voador, do qual fez milhares de imagens aéreas, e ligações para as redações dos maiores jornais do país. Agora, dispondo da linguagem literária, Galiotto acredita que educação ambiental é o principal objetivo do livro. Segundo o autor, os 3 mil exemplares impressos em formato grande, capa dura, com 32 capítulos, ao serem transportados do Rio a Cabo Frio em um caminhão, pesavam quatro toneladas.

- O veículo veio assim, ó - diz ele enchendo as bochechas, acrescentando que são exatamente essas quatro toneladas de fé em um mundo melhor que ele pretende ver implementada nas escolas públicas e particulares da região, como ferramenta de transformação sobre a preservação da natureza.


- Quero ver esse livro nas escolas, servindo de material de estudo e de conscientização. Ele tem imagens belíssimas da nossa natureza regional. Fico imaginando às vezes se o fotógrafo Wolnei tivesse escrito um livro, porque nos deixou um importante patrimônio de imagens sobre a história de Cabo Frio. Acredito estar fazendo o mesmo com relação ao meio ambiente. Se um dia tudo isso tiver acabado, poderão ver de nossas matas, fauna e flora tudo o que foi destruído. Mas rezo para que essas imagens sejam vistas pelo ângulo do que foi preservado – afirma Galiotto.
Publicada na Folha dos Lagos, em 24 de maio de 2008

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