sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Sobre homens e beija-flores


 

por thiago freitas


 


 

O desenvolvimento sustentável pensado através de Augusto Ruschi


 

Era o ano de 1975. O cientista, agrônomo, advogado, naturalista e ecologista Augusto Ruschi apresentava a um casal de cientistas americanos - Warren Kings e Barbara Sleeder, do museu de Nova Iorque - as riquezas contidas na pequena floresta de Santa Lúcia, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Durante a rápida expedição, Barbara deseja saber quais as espécies de beija-flor habitam o local. Ruschi senta-se confortavelmente em cima de um tronco de árvore tombado no chão, tira seu chapeuzinho preto, descansa seu binóculo e começa a contagem com a ajuda dos dedos das mãos:

    - Você quer saber a família Trochilidae? - indaga.

    A resposta não vem. A americana apenas balança a cabeça favoravelmente. Ruschi toma fôlego e, parecendo uma espécie de Google humano, revela a cientista de uma só vez dezenas de nomes. Começa pelo científico e logo em seguida passa ao vulgar:

    - Balança-rabo-rajado, balança-rabo-do-bico-curvo, balança-rabo-da-mata, rabo-branco-do-bico-preto, rabo-branco-canel, rabo-branco-das-casas, beija-flor-tesoura, beija-flor-preto-de-rabo-branco, beija-flor-orelhudo, beija-flor-de-frente-preta, beija-flor-vermelho, topetinho-vermelho... – foram aproximadamente trinta.

    - O senhor tem tudo isso na cabeça?

    - Tenho. Só vivo disso, desde os 14 anos de idade. Meus filhos, ando nessa floresta melhor do que vocês na rua. Acreditem que eu sou um habitante dela.

    Esse episódio, assim como muitos outros, está registrado, em outras palavras, no livro "Ruschi - O agitador ecológico", do jornalista Rogério Medeiros. De história em história que se lê desse capixaba de Santa Teresa, cidade do Espírito Santo, é possível ver construída sua forte e importante personalidade. E principalmente sua ligação com a natureza. Especialmente com os beija-flores. Havia algo mais que especial entre eles. Algo que os tornavam amigos. Mais. Os tornavam únicos.

    À frente de seu tempo, Ruschi foi o primeiro, no Brasil, a chamar a atenção para algo que hoje conhecemos como desenvolvimento sustentável. Um desafio que a humanidade vem tentando enfrentar para continuar a existir neste planeta chamado Terra. Sua importância fica clara, feito água cristalina, uma vez que foi responsável por construir uma nova corrente de pensamento, em meados do século XX, sobre a relação homem e natureza. Lição que, hoje, mais de meio século depois, ainda apanhamos para aprender.

Antes de entrar nas necessidades essenciais para a sobrevivência da raça humana dentro dos contextos que bem conhecemos, faz-se necessário lembrar que o pensamento ruschiano não beirava, nem de longe, os discursos radicais utópicos de preservação do meio ambiente, estes muitas vezes levantados por motivos infundados ou pelo simples pretexto de que "os animais são bonitinhos, por isso é preciso protegê-los". Não. Ele conhecia como ninguém o perfeito e complexo equilíbrio de todo o ecossistema. Ruschi representou uma linha de raciocínio técnico, lógico, crítico e acima de tudo justo que tentou, e tenta até hoje, alertar os homens para a necessidade real e urgente de se reaprender a viver neste planeta, da necessidade latente de preservar recursos naturais, de evitar a emissão descontrolada de gases poluentes na atmosfera, de lutar incansavelmente contra o desmatamento das áreas florestais, de se proteger as espécies (vegetais e animais) em extinção... Enfim, são muitas as tarefas para nós habitantes.

Em primeiro lugar, a sociedade precisa entender que não há mais tempo para que o mundo continue girando em volta do eixo do capital econômico. É equivocado considerar desenvolvimento sustentável como sinônimo de crescimento econômico. Este não leva em consideração os recursos naturais que deles vão precisar as gerações futuras. As grandes organizações que ainda agem sem essa consciência estão, a sangue frio, assassinando o presente e o futuro de milhões de pessoas.

Se entendemos por desenvolvimento sustentável a utilização dos recursos naturais conscientes de que é preciso poupá-los para as gerações futuras, estamos, portanto, falando em respeito. Respeito não apenas referente ao meio ambiente, diariamente agredido em todos os cantos do planeta, mas respeito também aos demais seres humanos que moram (ou que virão a morar) nesta mesma "casa".

Assim, o que mais se faz pertinente para essa discussão são as possibilidades de reciclagem, que não se limitam ao reaproveitamento de matérias primas, materiais descartáveis, do lixo, ou de substâncias poluidoras que costumam ser despejadas diretamente em águas limpas ou no solo. Aqui falamos em reciclagem em sentido mais amplo. Ou melhor, mais profundo. Afinal, o mundo precisa ser reciclado. As relações humanas precisam ser recicladas. A política, o sistema (capitalista, comunista, socialista, tanto faz), a economia, a sociedade precisa ser reciclada. Recicladas também devem ser as idéias, os hábitos, a cultura de consumo. O ensino precisa de reciclagem. A forma de ser cidadão, de ser empregado, de ser empresa ou organização não-governamental. Os órgãos responsáveis pela preservação e fiscalização do meio ambiente, também, precisam de seriíssimo processo de reciclagem. E, principalmente, a natureza humana precisa, a partir de agora, ser reflorestada de sentimentos nobres como os que moviam Augusto Ruschi.

Defender uma nova política de utilização dos recursos naturais para a manutenção da economia mundial não pode ser tratada apenas como um caso de ideologia, dever ou obrigação. Isso precisa ser, no sentido literal do termo, plantado e cultivado nos seres humanos como amor. O mesmo amor que se dedica a um filho, como demonstra o mesmo Ruschi ao declarar, já adoecido pelo veneno dos dendrobatas, seu sentimento pelo filho Piero, o caçula, que em 1985 tinha apenas um ano e meio: "Ele agora é minha floresta".

O fato é que o homem precisa reencontrar o seu elo com o seu habitat natural. Precisa reaprender a ser homem, e menos civilizado. Precisa reaprender a viver com as outras espécies, inclusive com a sua própria. Só assim a humanidade poderá enfim encontrar a harmonia necessária para viver em estado de paz. Não muito diferente da que vive hoje o senhor Augusto Ruschi. Para lá, certamente foi levado como queria, carregado por um exército de beija-flores, aos quais, em vida, amou e protegeu, como um guardião da natureza, por ela mesma designado.

*Jornalista


 

sábado, 21 de junho de 2008

Feijoada da Folha

Iguaria completa e
rodeada de história


Feijoada da Folha - Terceira edição do evento remonta sabor e história de um costume que, na verdade, não é tão brasileiro quanto se pensa. Mas o que importa? Verdade é que Portuguesa, francesa, ou à brasileira, a feijoada é booooooa...

por thiago freitas

O tamanho da foto foi de propósito. Claro. Afinal, se só de pensar em feijoada tem muita gente que baba, imagina olhando assim bem de perto. Além disso, se este jornal fosse virtual, com certeza teria uma musiquinha de fundo, chicobuarqueando algo como “Mulher / Você vai gostar / Tô levando uns amigos pra conversar / Eles vão com uma fome que nem me contem / Eles vão com uma sede de anteontem / Solta cerveja estupidamente gelada prum batalhão / E vamos botar água no feijão”. E tudo isso com apenas um objetivo: lembrar que hoje será realizada a terceira edição da Feijoada da Folha, evento que vem se tornando tradicional e que reúne sabor e resgate histórico deste velho costume de reunir amigos em torno de música e um típico prato brasileiro. Será?

A realização do evento da Folha, noticiado durante todo o mês de junho, não é lá uma novidade. Novidade, para muitos, pode ser o fato de que, pesquisando, eis que descobre-se que a feijoada, prato muito apreciado no Brasil, não tem lá suas raízes propriamente nas terras colonizadas pelos irmãos “portugas”.

A Wikipédia (sim, a internet tá aí para isso), a enciclopédia virtual, nos mostra que a explicação mais difundida sobre a origem da feijoada é a de que o senhores das fazendas de café, das minas de ouro e dos engenhos de açúcar davam aos escravos os "restos" dos porcos, quando estes eram carneados. O cozimento desses ingredientes, com feijão e água, teria feito nascer a receita. No entanto, a mesma fonte nos mostra uma outra versão para o fato dela ter se tornando tão tradicional, versão esta dada por Carlos Augusto Ditadi, técnico em assuntos culturais do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro.

Ditadi defende, em artigo publicado na revista Gula, de maio de 1998, que essa popular origem da feijoada não passa de lenda contemporânea, nascida do folclore moderno, uma visão romanceada das relações sociais e culturais da escravidão no Brasil.

"O padrão alimentar do escravo não difere fundamentalmente no Brasil do século XVIII: continua com a base, que fora estabelecida desde os primórdios, formada por farinha de mandioca ou de milho feita com água e mais alguns complementos. A sociedade escravista do Brasil, no século XVIII e parte do XIX, foi constantemente assolada pela escassez e carestia dos alimentos básicos decorrente da monocultura e do regime de trabalho escravocrata, não sendo rara a morte por alimentação deficiente. O escravo não podia ser simplesmente maltratado, pois custava caro e era a base da economia”, explica o pesquisador, acrescentando: “Não existe nenhuma referência conhecida a respeito de uma humilde e pobre feijoada, elaborada no interior da maioria das tristes e famélicas senzalas".

Para fortalecer ainda mais seu argumento, Ditadi aponta também a existência de um recibo de compra pela Casa Imperial, de 30 de abril de 1889, em um açougue da cidade de Petrópolis, no qual se vê que, consumia-se carne verde, de vitela, carneiro, porco, lingüiça, lingüiça de sangue, fígado, rins, língua, miolos, fressura de boi e molhos de tripas. Isso comprova que não eram só escravos que comiam esses ingredientes, e que não eram de modo algum "restos". Ao contrário, eram considerados iguarias.

A partir daí, ele chega a apontar a origem da feijoada a partir de influências européias, tendo a ver com receitas portuguesas, das regiões da Estremadura, das Beiras, Trás-os-Montes e Alto Douro, que misturam feijão de vários tipos - menos feijão preto (de origem americana) - lingüiças, orelhas e pé de porco.

Mais um forte elemento que afasta os relatos folclóricos do surgimento da feijoada em senzalas brasileiras é a publicação de um anúncio no Diário de Pernambuco, na cidade do Recife, de 7 de agosto de 1833, no qual se lê que um restaurante, o Hotel Théâtre, servia, às quintas-feiras, a “feijoada à brasileira”.

A feijoada completa, tal como a conhecemos, acompanhada de arroz branco, laranja em fatias, couve refogada e farofa (e feijão preto), era muito afamada no restaurante carioca G. Lobo, que funcionava (até 1905) na Rua General Câmara, 135, no centro do Rio. E segundo o pesquisador Pedro Nava, nos livros Baú de Ossos e Chão de Ferro, a receita contemporânea teria migrado da cozinha do estabelecimento G. Lobo para outros restaurantes do país. E hoje, estaremos todos a saborear e repetir quase 300 anos de história, seja a feijoada brasileira ou não...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Política e Corrupção

Cabo Frio na mira
da 'João-de-Barro'




por roberta costa*
Operação da Polícia Federal fechou,
pela manhã, a prefeitura do município

O município de Cabo Frio entrou na rota da maior operação da Polícia Federal desencadeada neste ano: a "João-de-Barro". Logo pela manhã, agentes fecharam a entrada da prefeitura, na Praça Tiradentes, impedindo o ingresso dos funcionários. Os policiais estavam cumprindo mandado de busca e apreensão a documentos referentes a repasses de verbas federais. Os mandados, segundo a PF, foram expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em Cabo Frio, segundo o procurador geral do município, Carlos Magno, os agentes buscavam documentos de convênios firmados com a prefeitura na área de Educação, no ano de 1996, época da gestão do ex-prefeito José Bonifácio; na área da Saúde, no ano de 2004, período referente à gestão do ex-prefeito Alair Corrêa; e na área da Habitação, no ano de 2008, verba esta que, segundo o procurador, ainda não foi utilizada pela atual administração em virtude da criação do Conselho Municipal de Habitação, que ainda tramita na Câmara Municipal.

A operação no município da Região dos Lagos foi comandada pelo delegado Giovane Agnoleto, da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários, e contou com a participação de pelo menos mais três agentes.

Os documentos solicitados estavam todos nas respectivas secretarias, algumas fora da sede da prefeitura, o que levou algum tempo para ser colhido.

A operação, deflagrada em todo país, visa a investigar desvio de verbas repassadas pela União para obras por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo nota divulgada pela Polícia Federal, a suspeita é de que a quadrilha tenha movimentado cerca de R$ 2,7 bilhões nos últimos meses. Em todo o país, cerca de mil agentes cumpriram 38 mandados de prisão e 231 mandados de busca e apreensão em sete estados - São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Goiás, Tocantins e no Distrito Federal. Para Cabo Frio, não foi expedido nenhum mandado de prisão.

Operação começou
antes das 6 horas


Os agentes federais, que estavam na cidade desde a noite de quinta-feira, chegaram antes das seis horas da manhã e permaneceram até 8h30 na sede da prefeitura, quando os servidores puderam ocupar seus postos. Logo cedo, quem passou pela Praça Tiraden-tes pôde acompanhar a movimentação dos agentes, que estacionaram a viatura da PF em frente ao prédio do governo, e dos servidores que acupavam os bancos da praça aguardando o desenrolar do caso.

- Cheguei por volta das seis da manhã, e esse carro preto já estava aí. Não pude entrar, estou esperando isso acabar para poder fazer meu trabalho - disse uma servidora que não quis se identificar.

Ao sair do prédio, os agentes não quiseram dar declarações à imprensa e explicaram que a investigação segue em segredo de Justiça. Já o procurador do município, Carlos Magno, disse que todo material solicitado foi entregue aos agentes.

- Acordei com o chamado dos guardas municipais que atuam na prefeitura, informando que agentes federais estariam à procura de documentos. Colhemos todo o material necessário e atendemos ao pedido. Eles agiram com cortesia e tudo aconteceu na maior tranqüilidade - disse.

Alair e Bonifácio, ex-prefeitos, afirmam que
documentos antigos serviram para despistar

O ex-prefeito de Cabo Frio, José Bonifácio (PDT), que assumiu a cidade por duas gestões, disse que a inclusão de documentação do período da gestão dele foi um recurso encontrado pelo atual procurador do município, Carlos Magno, para desviar a atenção sobre o real motivo da presença de agentes federais na cidade.

- A inclusão de documentação na época em que fui prefeito nada mais é do que uma tática da atual gestão para desviar a atenção da opinião pública. Isso tudo é uma cortina de fumaça. A operação deflagrada é referente a repasses de verbas do PAC e não tem a ver com minha gestão - disse o ex-prefeito, acrescentando que nos dez anos que co-mandou a cidade teve todas as contas aprovadas e que também nunca teve nenhum inquérito que o investigasse.

Para o deputado estadual Alair Corrêa, o procurador do município quis minimizar a situação do prefeito, tentando envolver o seu nome e de José Bonifácio.

- Tenho 16 anos de executivo. Doze de prefeito e dois como presidente da Câmara de Vereadores. Todas as 16 contas desses anos de servidor da cidade estão aprovadas pelo Tribunal de Contas, não havendo nenhuma situação. Ele pode querer enganar algumas pessoas de Cabo Frio, informando que os policiais vieram pegar documentos de dois governos anteriores; no entanto, essa vinda da Polícia Federal em Cabo Frio é uma obediência aos mandados expedidos pelo Tribunal Superior de Justiça, para a Operação João de Barro, por desvio de dinheiro do PAC. Eles foram mandados para Cabo Frio pelo governo federal, e pelo ministério das cidades.

Alair destacou que “esse ministério só tem três anos com data fundada pelo presidente Lula e o PAC só tem dois anos, também criado por Lula”.

- Como poderia estar sendo investigados governos passados, se esses programas só tem 2 e 3 anos e o governo Marquinho Mendes quase 4 anos? As pessoas estão acompanhando o noticiário nacional e vão descobrir um grande mentiroso que é o Procurador do município. Mais rápido se pega o mentiroso do que o coxo - concluiu.
*Roberta Costa é jornalista, editora-chefe do jornal Folha dos Lagos

Delegado diz que 'João-de-Barro'
vai gerar 200 inquéritos criminais

Agência Brasil

BRASÍLIA - O superintendente da Polícia Federal em Minas Gerais, David Salem, disse nesta sexta-feira, em Brasília, que a Operação João de Barro - que cumpre 231 mandados de busca e apreensão e 38 mandados de prisão temporária em sete estados - pode resultar na instauração de, pelo menos, 200 inquéritos criminais.

- Vamos instaurar inquéritos para cada projeto, de forma que não se prejudique a investigação e se garanta a persecução penal. Houve desvio da ordem potencial de R$ 700 milhões, mas, com o correr das investigações, vamos dividir e chegar ao valor de cada projeto - afirmou Salem.

O esquema investigado pela Polícia Federal envolve desvio de recursos em obras de 114 municípios de Minas Gerais, três no Rio de Janeiro, um no Tocantins e um no Espírito Santo.

A investigação teve início em 2006 e apurou o superfaturamento de diversas obras, inclusive parte delas integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), realizadas com utilização de material de baixa qualidade.

- Ocorre a liberação de emendas para determinado município. Empreiteiras com lobistas se articulam para ganhar a licitação. E o projeto não é implementado de foma padrão. O dinheiro que sobra é dividido entre os integrantes do esquema - descreveu Salem.

Segundo a Polícia Federal, a realização da operação vai evitar que mais R$ 2 bilhões fossem destinados para obras do interesse dos investigados.
Segundo o diretor-executivo da PF, Romero Lucena, também presente à entrevista coletiva, "o mais positivo é estancar um esquema desse porte, tendo em vista o que ainda poderia acontecer".

sábado, 14 de junho de 2008

Entrevista - Luis Fernando Verissimo








Verissimo, o
superlativo escritor




por thiago freitas

Escritor fala sobre si, literatura, internet,
música, um novo livro e 'o pai'

"Isso é um gravador?", me pergunta Verissimo logo assim que eu coloco o aparelho de MP3 sobre a mesa à qual sentamos à beira da piscina de uma pousada no centro de Cabo Frio, para um bate-papo que duraria, sem sabermos, cerca de meia hora. Imediatamente, lembrei-me do texto dele, "O Gigolô das Palavras", no qual fazia certo sarcasmo do uso do gravador cassete ("certamente o instrumento vital da pedagogia moderna", dizia ele) por parte dos alunos do Farroupilha. Eles cumpriam a tarefa escolar de entrevistar o escritor a respeito de sua opinião sobre o estudo da Gramática no aprendizado da nossa ou de qualquer outra língua.

De certa forma, concordo com o Gay Talase, jornalista norte-americano, quando afirma que as grandes reportagens vêm gravadas no coração do repórter, não em gravadores ou pedaços de papel. Mas é perceptível, a partir de certas deixas, que esses nossos colegas do jornalismo, das gerações anteriores, vêem com certa desconfiança todo tipo de modernidade.

Por isso talvez Luis Fernando Verissimo se mostre um pouco espantado com a internet e a criação de uma nova linguagem a partir dela, além da proliferação de textos com supostas autorias que circulam dentro da grande rede, muitos com seu nome vindo abaixo como autor.

A entrevista, que se desenrolou descontraidamente como uma conversa qualquer, foi custosa no sentido de fazer se soltar essa figura singular que, embora gaúcho, carrega consigo uma timidez similar à dos mineiros.

Verissimo esteve em Cabo Frio para o lançamento do livro “Natureza Intacta & Agredida”, de Ernesto Galiotto, amigo de longas datas (se conheceram na Copa do Mundo de 1990, na Itália). O bate-papo, em seu conjunto, acrescenta a todos os fãs desse escritor - que, com todo refino, popularizou a leitura para milhões de brasileiros com crônicas que nos enchem as manhãs no ato de abrir o jornal - um pouco mais do jeito Verissimo de ser: superlativo e sintético.

Entrevistá-lo, aliás, é tarefa pela qual o repórter tem que batalhar. Educadíssimo, mas de poucas palavras (faladas), Verissimo nos obriga a pensar rápido para não deixar que em certos momentos um silenciozinho constrangedor paire no meio da conversa. O amigo e jornalista Otávio Perelló, que o entrevistou um dia antes de mim, durante um almoço na casa do Galiotto, também promete uma grande entrevista com o escritor, que será publicada no início do mês que vem na revista CIDADE. Valendo-se do seu ampliado conhecimento literário, Perelló conseguiu arrancar declarações de impacto do querido cronista, que, meio sem perceber, mergulhou na tarefa de analisar a pessoa e obra “do pai” (como se refere ao escritor Érico Verissimo, a quem, certamente, deve muito a literatura brasileira).

Lagos Alternativa - Li recentemente um pequeno texto na internet que era atribuído a você: “não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando do que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu”. Afinal, é seu?

Verissimo – Não, não é meu. O problema da internet é que está cheio de textos com a minha assinatura e que não são meus. Aliás, a maioria do que está lá nesse sentido não é de minha autoria. E é curioso, porque muitas vezes são textos bons e não entendo por qual motivo que a pessoa que escreveu não coloca o próprio nome.

LA - Você acaba ganhando a fama e o proveito.

Verissimo – Pois é. As pessoas elogiam e dizem “olha, gostei muito daquele texto seu que diz...”, e não é meu. Tem um texto chamado “O Quase”, acho que é esse, o trecho que você falou é tirado desse texto. E é um texto bom. As pessoas me elogiam por ele, e eu aceito os elogios (risos). É engraçado, porque uma vez eu estava no Salão do Livro, em Paris, há uns dois anos atrás, e uma senhora veio falar comigo que ela tinha traduzido vários autores brasileiros para o francês. Ela tinha feito um pequeno livro com traduções de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, e tinha me incluído na seleção. Mas o texto que ela tinha escolhido era “O Quase”. E aí eu tive que falar para ele que não era meu. É um problema porque não há como controlar isso. As pessoas põem na internet o que quiserem e com a assinatura que quiserem.

LA - Você passa muito essas situações com relação à internet? Pois tem outros textos indefinidos também. Existe um que é “Ter ou Não Ter um Namorado”. Uns atribuem a Drummond, outros dizem que é de Artur da Távola, e nenhum dos dois, infelizmente, está mais aqui para poderem responder. Qual a sua opinião sobre a literatura dentro da rede de computadores, porque em outra época isso não acontecia?

Verissimo - É uma coisa que está meio fora de controle. Tem muitos textos atribuídos ao Jorge Luis Borges, também, a Marta Medeiros também tem vários que não são delas. Então não há o que fazer. A gente só fica torcendo para nunca dar algum problema, como difamar alguém e assinar com nosso nome e a gente ser responsabilizado por isso.

LA - Você tem uma produção de textos muito intensa e com temas muito diversificados, entre crônicas, poesia, romance. Como um escritor que mantém uma posição como um dos mais vendidos e mais lidos do país, qual a sua visão sobre o mercado editorial na atualidade, inclusive para aqueles escritores que estão começando agora e para os já consagrados, como você, o João Ubaldo Ribeiro, Paulo Coelho entre outros?

Verissimo – Olha, acho que está melhorando, aos poucos está ficando melhor, inclusive a garotada está lendo mais. A gente sente tudo que está sendo feito nas escolas, no ensino básico, para incentivar a leitura, torná-la uma coisa mais prazerosa. Apesar de não ter muito jeito para isso, eu sempre aceito o convite quando me chamam para ir às escolas conversar com os alunos, porque é uma forma da gente colaborar nessa briga para criar o hábito da leitura. Mas continua sendo um mercado muito limitado, apesar de tudo que tem sido melhorado. Na verdade são as limitações do Brasil. Somos um país do qual 70% da população não têm condição de consumir cultura, literatura. Portanto é um mercado muito restrito e que só vai mudar quando o Brasil mudar como um todo, quando sua economia mudar, pois é uma coisa vergonhosa 70% da população não ter, enfim, qualquer tipo de vida econômica.




[Eu, por exemplo, não conseguiria viver só com o que eu ganho com livro. Preciso ter minha atividade jornalística. Talvez o Paulo Coelho obviamente viva só dos livros]



LA - E você acha que para quem está começando no ramo da literatura, está mais fácil ou mais difícil hoje, mesmo contando com recursos como a internet? Tem muita gente publicando livros em blogs.

Verissimo – Pois é, essa é a grande novidade do mercado atual, a internet. Um veículo de divulgação para se publicar os textos, algo diferente e novo e com um público cada vez maior. Agora, publicar no Brasil da maneira tradicional, através de uma editora, isso continua difícil, porque geralmente as editoras não querem se arriscar com um autor novo, querem um autor que já seja conhecido, pois afinal de contas um livro demanda um investimento grande que requer um retorno. Por outro lado, um escritor só pode se tornar conhecido se for publicado, então entramos aí num círculo vicioso. E isso continua. O que tem muito que ajuda são esses concursos literários, que é uma maneira da pessoa se tornar conhecida, ganhar um prêmio.

LA - O caminho natural da sua geração, aliás, bem antes da sua, era sempre começar pelos jornais.

Verissimo – Certamente. Mas é bom lembrar que a profissão de escritor continua sendo uma profissão que não existe. Eu, por exemplo, não conseguiria viver só com o que eu ganho com livro. Preciso ter minha atividade jornalística. Talvez o Paulo Coelho obviamente viva só dos livros. Acho que o Rubem Fonseca também. Mas todos os outros têm uma atividade. O João Ubaldo tem coluna no jornal, trabalha para televisão. O (Carlos Heitor) Cony escreve para jornal também. Então, fica claro que é uma profissão que não existe.

LA - Mas essas atividades são uma forma de estar em contato com o público mesmo depois que o livro esfria.

Verissimo – É, isso também é bom, ajuda a se manter visível.

LA - Tem um conterrâneo seu que diz também que está vivendo apenas dos livros, o Eduardo Bueno.

Verissimo - O Peninha.

LA - Isso. Você também fez uma série de textos que era “Para Gostar de Ler”, voltado para as escolas, para o público infanto-juvenil. Isso é por acreditar que para haver um mercado editorial consistente com espaço para novos escritores primeiro são necessários novos leitores?

Verissimo - Com certeza. Isso é o que constitui um mercado editorial, o que infelizmente no Brasil não há. Você vê em um país como os Estados Unidos, existe um mercado grande para qualquer tipo de livro, não só para a boa literatura, mas também para a leitura fácil, policial etc. O importante é que exista mercado. Mesmo não sendo uma literatura de qualidade, mas que seja um mercado de literatura que permita ao escritor viver daquilo que faz, seja lá qual for o tipo de literatura dele.

LA - Quais os escritores novos que você tem visto de interessante?

Verissimo – Infelizmente eu tenho lido mais para me informar, e daí a gente acaba perdendo muito tempo com jornais e revistas, e leio muito sobre história também, política, economia, enquanto que a leitura por prazer fica meio relegada. Por isso eu conheço pouco esse pessoal novo, mas o mais novo que conheço é o José Roberto Toureiro, de que eu sempre gostei muito dele, desde o primeiro livro que li dele. Na verdade nem posso dizer que seja tão recente... O Milton Hatoum também eu gosto muito. Fora esses eu não tenho acompanhado muito, não.

LA - E qual é sua opinião sobre os chamados best-sellers? Existe a literatura feita por arte, com intuito de provocar pensamentos novos, criar inquietações no leitor. Mas são cada vez mais freqüentes as obras com o objetivo quase que exclusivo de venda. Como você vê esses produtos literários?

Verissimo – Eu acho ótimo que exista esse tipo de literatura porque movimenta, ajuda a manter o mercado editorial. Por exemplo, Paulo Coelho, que é muito discutido; é ótimo que as pessoas estejam entrando nas livrarias para comprar o livro dele, porque de rabo de olho podem acabar vendo outro livro que também as interesse... O importante é levar a pessoa para dentro da livraria. Seja para ler o Paulo Coelho, ou o Harry Potter, isso demonstra o interesse pelo livro, e eventualmente vão gostar de outro livro, da literatura de qualidade.

LA - Em o Gigolô das Palavras, você considera que a Gramática não é algo tão importante assim para a produção de um bom texto. Como que você avalia a questão da acessibilidade à linguagem, porque muitos tendem a achar que escrever bem é utilizar palavras rebuscadas e construir frases complexas?

Verissimo – Acho que há uma certa confusão entre escrever bem e escrever corretamente. Escrever corretamente seria seguir todas as regras da Gramática e não tomar liberdades com a linguagem. Já escrever bem às vezes depende da gente romper com essas regras, não obedecê-las. É claro que eu não estou pregando que as pessoas passem a escrever no sentido de não-corretamente, que ignore completamente a Gramática. Não é isso. Só acho que se deve escrever com certa liberdade, e se essa liberdade às vezes envolve agredir um pouco as regras da linguagem, então tudo bem. O importante é construir uma leitura atraente, que prenda o leitor. Muita gente discutiu isso comigo, me acusaram de estar pregando uma rebeldia contra a Gramática, mas não era bem isso. Temos é que encarar a língua com uma coisa viva e usá-la com liberdade.

LA - Agora, do seu pai, o romancista Érico Verissimo, quanto da literatura dele ou do estilo você acredita que carrega em seus textos?

Verissimo - Bom, o que ele fazia era meio diferente do que eu faço. Era romancista, embora também tenha começado fazendo contos. Mas acho que o pai foi um dos primeiros escritores brasileiros a escrever de uma maneira mais informal, um estilo influenciado pelos americanos, pelos ingleses. Na época em que ele começou, a influencia maior vinha da França, da Espanha, Portugal. E ele foi um dos primeiros a escrever uma literatura menos empolada, mais informal, e escapava também do gênero regionalista, muito em evidência naquele tempo através de Guimarães Rosa, José Lins do Rego. E ele foi diferente nesse sentido, do que tenho uma certa influência, porque tento escrever também de maneira mais informal, não muito empolada.

LA - Como que é seu ritmo de produção?

Verissimo - Durante muito tempo eu tive uma coluna diária, então tinha que ter pelo menos uma idéia por dia. Agora eu estou fazendo só três textos por semana, que saem no Zero Hora, no Estadão, no Globo e a Agência Globo distribui por entre os seus outros jornais. Tem ainda o texto que sai na revista de domingo do Zero Hora e na do Estadão.

LA - Você tem algum projeto atualmente?

Verissimo - Estou escrevendo um romance. Os meus romances, até agora foram cinco, todos foram mais ou menos encomendados. Este é o primeiro por iniciativa minha. Mas vai demorar um pouco ainda para ficar pronto. Fora isso têm os livros de crônicas, um que saiu agora há pouco, chamado “Mais Comédias Para Ler na Escola”, e um outro que vai ser lançado em breve, com crônicas mais sobre meio ambiente, política, uma coisa mais séria, mais pretensiosa. Já esse romance vai ficar pronto só lá para o ano que vem.

LA - E ele vai falar sobre o que, qual é o enredo?

Verissimo – O título provisório do romance é “Os Espiões”. Tem um pouco a ver com esse problema de publicar livro, de mercado editorial. O personagem narrador trabalha em uma editora e recebe um original misterioso pelo qual acaba se apaixonando, sem saber bem quem é o autor. Ele e outros começam uma espécie de espionagem para descobrir quem escreveu aquele original, mas é difícil de explicar porque é complicado o negócio. Não está bem definido ainda.

LA - Não sei se alguém já te disse isso, mas seus textos são tão cheios de irreverência, enquanto que você é bastante quieto, tímido. Isso é uma forma de expressar pela literatura aquilo que você não costuma falar?

Verissimo - Não sei até que ponto isso funciona como uma coisa compensar a outra. Não sei se isso é uma compensação. Conheço vários escritores extrovertidos cujas personalidades combinam com o que eles escrevem, o que não é meu caso. Eu tenho uma certa dificuldade de expressão, uma certa timidez, e isso não aparece nos textos, parece o contrário.

LA - O Vinicius de Moraes, ao que parece, era exatamente aquilo que aparecia nos textos e poemas dele, um boêmio, um ser romântico; o Drummond muito recatado, até surpreendeu a todos quando apareceu com aqueles poemas eróticos...

Verissimo – Exatamente. Tem outro exemplo também que é o Millôr Fernandes, que é brilhante tanto pessoalmente como escrevendo, a mente sempre funcionando.

LA - E como que acontece então essa sua relação com estudantes, já que você é muito convidado para comparecer em escolas? Pelo que a gente observa, seus textos são muito utilizados em livros didáticos, em provas de vestibular, de concurso. O mais interessante é que muitas vezes o mesmo texto é utilizado em séries do ensino fundamental e no superior.

Verissimo – Eu acho que o atrativo principal do texto meu é que eles são geralmente curtos, bem claros, inteligíveis, e por ali o aluno do ensino básico vai descobrindo a leitura, e acaba gostando. Mais tarde a turma maior acaba percebendo outras sutilezas que a garotada ainda não consegue entender.

LA - Você também é um escritor que trata de temas variados. Escreve sobre tudo: política, comportamento, relacionamento, meio ambiente, amor, juventude, comportamento feminino... Como que é para você essa procura, se é que você fica procurando coisas no dia-a-dia de que possa tirar um texto?

Verissimo – Bem, eu estou com 71 anos, então já vivi um pouco e tive minha própria experiência de vida, apesar de ser essa pessoa introvertida. Mas estamos sempre ouvindo os que os outros contam, vendo coisas acontecendo, lendo. Às vezes a partir de uma frase que alguém diz detona um processo de criação que pode acabar em uma história. Não existe uma forma. No entanto acredito que ajuda estar sempre atento ao que pode dar uma boa crônica. Além disso, tem muita coisa que me interessa, gosto muito de cinema, de esporte, política...

LA - E música! Todos sabem da paixão do Luis Fernando Verissimo pela música, especialmente o jazz. Como que isso começou?

Verissimo – Na verdade a música para mim foi anterior à literatura. Eu comecei a escrever bastante tarde, já com 30 anos, justamente quando eu comecei no jornal. Mas a música vem desde os 16 anos, quando aprendi a tocar o saxofone. Eu não tinha nenhuma intenção de ser músico profissional, mas sempre gostei muito da música. O que eu queria mesmo era brincar de jazzista, e de certa maneira é o que faço até hoje com minha banda [a Jazz 6]. E a banda tem músicos profissionais, o único metido a músico ali sou eu.

LA - Na área musical, você acha que a produção avançou mais do que na literatura, ou não, a literatura acabou inovando mais? Tem muita gente que diz que a música brasileira ficou ruim, que não tem mais produções do nível de um Chico Buarque e toda aquela geração.

Verissimo – Eu acho que a última grande coisa que teve na música nos últimos 30 anos foi o rock, que tomou conta de tudo e hoje é o ritmo universal, um estilo que começou com os negros norte-americanos nos Estados Unidos e depois acabou tomando conta do mundo. Acho que ele tem influenciado toda produção. Nós temos aqui no Brasil algumas exceções, porque a música brasileira é riquíssima, com muita variedade, então acho que resistiu um pouco com o rock quase que monopolizando o cenário. É muito interessante Chico Buarque, Caetano, essa turma toda, mas acredito que o grande determinante da música no mundo foi o rock, com todas suas variações.

LA - E na literatura, tem notado algum estilo novo?

Verissimo – Acho que aí o que está marcando é a linguagem do computador. Uma linguagem que criaram e que não sabemos até onde vai isso, mas temos de reconhecer que é uma tendência. Fica aquela velha história, se o livro vai desaparecer ou não. Enquanto precisarem de texto, seja para computador seja para livro, tudo bem. O chato vai ser quando aparecer um computador que também escreve (risos). Aí vamos nos tornar obsoletos.

LA - Éééé... Então tá, Verissimo. Acho que está bom, aliás, você tem que ir, né?

Verissimo – É. Mas foi bom. Você também escreve crônicas?

LA - Hummm... Escrevo! Mas não igual a você, Verissimo...

Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade da Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone.

É casado com Lúcia e tem três filhos.

Jornalista, iniciou sua carreira no jornal Zero Hora, em Porto Alegre, em fins de 1966, onde começou como copydesk mas trabalhou em diversas seções ("editor de frescuras", redator, editor nacional e internacional). Além disso, sobreviveu um tempo como tradutor, no Rio de Janeiro. A partir de 1969, passou a escrever matéria assinada, quando substituiu a coluna do Jockyman, na Zero Hora. Em 1970 mudou-se para o jornal Folha da Manhã, mas voltou ao antigo emprego em 1975, e passou a ser publicado no Rio de Janeiro também. O sucesso de sua coluna garantiu o lançamento, naquele ano, do livro "A Grande Mulher Nua", uma coletânea de seus textos.

Participou também da televisão, criando quadros para o programa "Planeta dos Homens", na Rede Globo e, mais recentemente, fornecendo material para a série "Comédias da Vida Privada", baseada em livro homônimo.

Escritor prolífero, são de sua autoria, dentre outros, O Popular, A Grande Mulher Nua, Amor Brasileiro, publicados pela José Olympio Editora; As Cobras e Outros Bichos, Pega pra Kapput!, Ed Mort em "Procurando o Silva", Ed Mort em "Disneyworld Blues", Ed Mort em "Com a Mão no Milhão", Ed Mort em "A Conexão Nazista", Ed Mort em "O Seqüestro do Zagueiro Central", Ed Mort e Outras Histórias, O Jardim do Diabo, Pai não Entende Nada, Peças Íntimas, O Santinho, Zoeira , Sexo na Cabeça, O Gigolô das Palavras, O Analista de Bagé, A Mão Do Freud, Orgias, As Aventuras da Família Brasil, O Analista de Bagé,O Analista de Bagé em Quadrinhos, Outras do Analista de Bagé, A Velhinha de Taubaté, A Mulher do Silva, O Marido do Doutor Pompeu, publicados pela L&PM Editores, e A Mesa Voadora, pela Editora Globo e Traçando Paris, pela Artes e Ofícios.

Além disso, tem textos de ficção e crônicas publicadas nas revistas Playboy, Cláudia, Domingo (do Jornal do Brasil), Veja, e nos jornais Zero Hora, Folha de São Paulo, Jornal do Brasil e, a partir de junho de 2.000, no jornal O Globo.

Na opinião de Jaguar "Verissimo é uma fábrica de fazer humor. Muito e bom. Meu consolo — comparando meu artesanato de chistes e cartuns com sua fábrica — era que, enquanto eu rodo pelaí com minha grande capacidade ociosa pelos bares da vida, na busca insaciável do prazer (B.I.P.), o campeão do humor trabalha como um mouro (se é que os mouros trabalham). Pensava que, com aquela vasta produção, ele só podia levantar os olhos da máquina de escrever para pingar colírio, como dizia o Stanislaw Ponte Preta. Boemia, papos furados pela noite a dentro, curtir restaurantes malocados, lazer em suma, nem pensar. De manhã à noite, sempre com a placa "Homens Trabalhando" pendurada no pescoço."

Extremamente tímido, foi homenageado por uma escola de samba de sua terra natal no carnaval de 2.000.


Fonte: site Releituras (http://www.releituras.com/lfverissimo_bio.asp)


A entrevista teve resumo publicado na Folha dos Lagos, em 14 de junho de 2008

terça-feira, 3 de junho de 2008

Errata

A primeira grande errata

Claro que errar não é motivo de orgulho, mas não deixa de ser um ato que nos traz aprendizados. Neste momento, em que ameaça ser abalada a credibilidade e prestígio deste blog, mostramos que não é bem assim que agimos diante dos erros. Neste caso, não um erro de caráter de quem dirige o Lagos Alternativa, mas um erro de confiança.

Através de inúmeros comentários deixados para este editor, tomei conhecimento de um ato falho de um de nossos colaboradores, Everson Lyrio de Castro, que assina as críticas cinematográficas. Ficou comprovado que seus artigos eram provenientes de cópias feitas de outros sites da Internet, o que constitui plágio, um crime previsto pela lei de direitos autorais.

Estas linhas têm o objetivo aberto, sim, de se retratar, não apenas com os verdadeiros autores dos textos, mas principalmente com os leitores que os acompanham e também aos leitores assíduos do Lagos Alternativa. Isso porque eu, sinceramente, detestaria também ver alguém compilando os escritores que admiro e os colaboradores de nosso blog e assinando embaixo como pai da obra, em qualquer outro lugar. Mas antes disso, quero colocar algumas observações sobre o teor das críticas que recebi, muitas delas deselegantes e com o intuito de desmoralizar este editor, o blog e todos os demais que com ele colaboram.

Nos comentários postados, constam um bocado de ofensas pessoais, xingamentos, às vezes direcionados ao “autor” dos textos contestados, às vezes ao editor do blog, como esse, assinado por The Portal: “Quanto tirou no trabalho de escola pela "crítica"? Porque copiar o trabalho de outra pessoa mudando uma coisa ou outra e acrescentando introdução e conclusão eu fazia no primeiro grau, copiando a Barsa. Caso o plagiador (nunca jornalista, nem blogueiro) não apague este comentário, a verdadeira crítica pertence a Pablo Villaça, editor e crítico do Cinema em Cena (www.cinemaemcena.com.br) e pode ser encontrada aqui:
http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_filme.aspx?id_critica=7140&id_filme=95&aba=critica”.

Pois bem. Primeiro, sou, sim, jornalista, aliás, nasci em berço jornalístico, seguindo a profissão de meu pai. Quanto ao blog, tenho plena consciência da responsabilidade exigida para manter um na grande rede. Meu erro, no entanto, não foi de amadorismo, mal caratismo ou outro aspecto negativo. Foi, sim, de confiança. A pessoa que assinou os artigos é um amigo pessoal, por quem tenho muita amizade e respeito, e lamento muito passar por essa comprovada decepção. Ao tomar conhecimento de tais atos, a primeira providência foi tentar ouvi-lo, mas até o momento desta publicação, dele não consegui nenhuma declaração. Publiquei os textos em confiança, por ter lido outros escritos que me mostrava quando trabalhávamos juntos no jornal Folha dos Lagos, em Cabo Frio.

Outra observação: teve quem me acusasse de querer esconder os comentários. É bom lembrar a esses que a moderação deles é uma regra básica em quase todos os blogs e sites sérios de jornalismo, pois não podemos nos expor ao risco de publicar conteúdos que possam comprometer a credibilidade de nosso veículo de comunicação ou denegrir, mesmo que sem querer, a imagem de quem quer que seja. Podem ver, agora, que todos os comentários foram publicados, inclusive os ofensivos, sobre os quais vale mais uma observação: embora muitas vezes tenhamos razão quando reclamamos algo, é fácil perdê-la. O que quero dizer é simples. Muitos dos que deixaram seus comentários tinham razão para apontar a falha do colunista, e, por tabela, do blog, por não ter checado a autenticidade do texto (coisas que acontecem até nos mais renomados jornais, como o New York Times, por que não com um “bloguezinho” de meia dúzia de acesso ao dia).

Por fim, quero deixar aqui as minhas desculpas a todos, aos leitores do Lagos Alternativa, aos leitores dos autores que foram plagiados e principalmente aos verdadeiros autores dos textos. Só me abstenho de desculpar-me com àqueles que se apresentaram como anônimo, aproveitando para fazer pesadas ofensas se escondendo atrás deste recurso comum na Internet. A esse comentarista, resta dizer apenas que errar é natural. Estamos aqui, de cara aberta para bater. Meu e-mail está disponível ao público, o blog também, assim como meu nome verdadeiro e tudo o mais, porque não tenho medo do erro. Como editor do Lagos Alternativa, meu medo, sim, é de um dia me mostrar covarde de assumir abertamente, como faço agora, que errei. Neste caso, como já expliquei, meu erro foi confiar em quem errou. No entanto, mais feio do que cometer esse erro, caros colegas, é se esconder quando se está com a razão...

Forte abraço a todos!

Ps.: Os textos, com a permissão dos autores verdadeiros, serão republicados e assinados com as devidas correções, para que todos entendam o ocorrido. Além disso, serão mantidos os comentários, ainda que caluniosos, pois esses “excessos” também esperam retratação.
Thiago Freitas
(Editor do Lagos Alternativa)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Eraldo Mai - Conversos

Conversos

Advento

soem os sinos
cantem-se os hinos
entre os meninos
eis Santiago

de onde ele veio?
veio do seio
de Deus e anseio
por seu afago

veio no dia
(que sintonia
se descobria)
de Sâo Tiago

pelo caminho
(passarozinho)
no amor faz ninho
por quê? me indago

bem sei no entanto
é pelo encanto
do nome santo
que lhe foi dado

Texto em homenagem ao advento de meu neto, Santiago.

Eraldo Mai é poeta e professor de Língua Portuguesa da Ferlagos

sábado, 24 de maio de 2008

Dossiê Meio Ambiente



por thiago freitas


Assim escreveu Luis Fernando Verissimo: “Há anos este anti-Quixote enfrenta os depredadores da natureza e os que sacrificam o meio ambiente pelo lucro na sua região, e tem vencido a maioria destas batalhas com sua combinação de idealismo, garra e persistência. (...) A única coisa quixotesca no Galiotto é que, como o personagem de Cervantes, ele também encarna a figura fascinante de um guerreiro com alma”. Este texto consta no prefácio de “Natureza Intacta & Agredida – 30 anos de luta ambiental”, do ativista Ernesto Galiotto, e sintetiza poeticamente as mais de 360 páginas seguintes da obra, que será lançada no dia 7 de junho, às 15h30, no Espaço Cultural e Ambiental Érico Verissimo (ECAEV), em Tamoios, Segundo Distrito de Cabo Frio. O lançamento contará ainda com a presença ilustre do próprio autor do prefácio.

O livro por si só constitui um dossiê a respeito da degradação ambiental praticada ao longo de 30 anos na Região dos Lagos e outras localidades do Estado do Rio de Janeiro, como a própria Cidade Maravilhosa e sua vizinha, Niterói. Como o título da obra denuncia, mostra, em quase 400 imagens, o antes e depois de paisagens naturais: intactas e agredidas. Em uma dessas imagens, por exemplo, dispostas paralelamente, fica comprovada, sem margens para contestação, a morte agonizante do mangue onde hoje está instalado o Parque Municipal Ambiental Dormitório das Garças, em Cabo Frio.

Para ser lido em um só fôlego

Embora seja constituído de muitas imagens, não falta emoção ao livro, que respira idealismo, altruísmo, poesia e ação, com algumas histórias que lembram os filmes hollywoodianos. Numa delas, em 1997, Galiotto “arma-se” de um helicóptero, máquina fotográfica e seis jacas (isso mesmo, você leu certo, sei jacas). Tal como um agitador ecológico, arremessou as frutas de cima do helicóptero, que chegavam ao solo pesando 15 toneladas cada uma, por influência da gravidade. O alvo era um terreno no Segundo Distrito, onde se praticava a extração ilegal de areia. Funcionários abandonavam tratores e caminhões correndo em desespero. Um areeiro chegou a fazer queixa à Polícia Federal. Disse que as “bombas” estremeciam toda a cidade e acusou o ambientalista de portar um “fuzil” (que na verdade era apenas a boa e velha máquina fotográfica).



“Natureza Intacta & Agredida” reúne ainda uma coleção de polêmicas, embates judiciais travados pelo ambientalista, com centenas de representações ao Ministério Público Estadual e ao Federal, fábulas escritas por Galiotto e inúmeras histórias de denúncias e ameaças.
- O livro é uma verdade reta, sem curvas. Quero dizer que é um documento que mostra como nossas autoridades e a sociedade vem tratando a natureza. As fotos não deixam margens para argumento. Está ali a prova. É só olhar. Fica claro que pela maneira que avança a depredação do meio ambiente, se não tomarmos consciência de que é preciso parar, dentro de muito pouco tempo não vai sobrar muita coisa para contar história. É só ver como estavam essas regiões, principalmente Búzios, 12 anos atrás, e como estão agora. Pense isso 12 anos para frente, estará pior. É esta a importância do livro, fazer este alerta – diz o autor.


Quatro toneladas de fé
na educação ambiental


Há anos Ernesto Galiotto é conhecido por combater os crimes ambientais usando recursos simples: sua máquina fotográfica, o pequeno monomotor, batizado de Mico-leão-voador, do qual fez milhares de imagens aéreas, e ligações para as redações dos maiores jornais do país. Agora, dispondo da linguagem literária, Galiotto acredita que educação ambiental é o principal objetivo do livro. Segundo o autor, os 3 mil exemplares impressos em formato grande, capa dura, com 32 capítulos, ao serem transportados do Rio a Cabo Frio em um caminhão, pesavam quatro toneladas.

- O veículo veio assim, ó - diz ele enchendo as bochechas, acrescentando que são exatamente essas quatro toneladas de fé em um mundo melhor que ele pretende ver implementada nas escolas públicas e particulares da região, como ferramenta de transformação sobre a preservação da natureza.


- Quero ver esse livro nas escolas, servindo de material de estudo e de conscientização. Ele tem imagens belíssimas da nossa natureza regional. Fico imaginando às vezes se o fotógrafo Wolnei tivesse escrito um livro, porque nos deixou um importante patrimônio de imagens sobre a história de Cabo Frio. Acredito estar fazendo o mesmo com relação ao meio ambiente. Se um dia tudo isso tiver acabado, poderão ver de nossas matas, fauna e flora tudo o que foi destruído. Mas rezo para que essas imagens sejam vistas pelo ângulo do que foi preservado – afirma Galiotto.
Publicada na Folha dos Lagos, em 24 de maio de 2008

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Reformaram o português








por thiago freitas



Esperava-se de tudo. A Reforma Tributária, que não veio; a Reforma Agrária, que não veio; a Reforma Política, que também não veio, pelo menos não como era esperada... Mas veio a Reforma Ortográfica, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março deste ano. E neste mês, o Ministério da Educação (MEC) publicou, no dia 8, uma resolução no Diário Oficial exigindo que os livros didáticos que serão comprados para as escolas públicas a partir de 2010 estejam de acordo com as novas normas ortográficas da Língua Portuguesa. Além disso, o ministério já autorizou as editoras a fazerem essa adaptação a partir de 2009, apesar de ainda não ser obrigatória. Mas afinal, o que muda de agora em diante?

Se as mudanças são ou não necessária, só o tempo e o uso (ou não-uso) das novas regras por parte dos falantes da língua poderão dizer. A polêmica, contudo, já está instalada e divide opiniões entre os mestres da filologia, professores, escritores, jornalistas, estudantes, enfim, entre todos que falam e escrevem na língua de Luis de Camões.

Agora se escreve assim:

Caso um aluno do Ensino Fundamental ou Médio perguntar ao professor se, por exemplo, “lingüiça” se escreve com trema ou sem trema, ou ainda, se “herói” possui ou não acento agudo, não precisará se espantar se a resposta for: “linguiça”, sem trema, e “heroi”, sem acento. Essas são algumas das mudanças previstas pelo Acordo Ortográfico ora em debate. Parece esquisito, mas foi igualmente estranho em 1971, quando outra reforma na Língua Portuguesa deu cabo dos acentos circunflexos diferenciais de timbre, passando, portanto, a se escrever “ele”, “olho”, “gosto”, “este” em vez de “êle”, “ôlho”, “gôsto”, “êste”, como o era antes.

Nesta reforma atual, em que se pretende unificar a grafia dos vocábulos entre os países de Língua Portuguesa, estão previstas as seguintes modificações (ver grágico abaixo) para o português no Brasil, que deverão constar em todos os livros didáticos a partir de 2010, embora passem a vigorar já em janeiro do próximo ano:



Para Portugal, também haverá mudanças: desaparecerão o “c” e o “p” de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como “acção”, “acto”, “adopção”, “óptimo” (se tornaram, portanto, “ação”, “ato”, “adoção”, “ótimo”); será eliminado o “h” de palavras como “herva” e “húmido”, que serão grafadas como no Brasil, “erva” e “úmido”.

Temos acordo (ou não?)

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 é um tratado internacional firmado entre os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e que tem como objetivo criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos esses países, oito ao todo: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe e Timor Leste - este último aderiu ao acordo em 2004.

A proposta visa a instituir uma ortografia única oficial da Língua Portuguesa e com isso aumentar o prestígio internacional, dando fim à existência de duas normas ortográficas oficiais divergentes: uma no Brasil e a outra nos demais países supracitados.

Atualmente, segundo estudos, o português é quinta língua mais falada no mundo, tendo cerca de 230 milhões de pessoas se comunicando através dela (190 milhões só no Brasil). Por causa de algumas diferenças ortográficas, existe uma dificuldade de estabelecer a língua como um dos idiomas oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU), onde é necessária a tradução dos documentos para as suas duas variantes.

A adaptação proposta pelo Acordo Ortográfico acarretará alterações na grafia de cerca de 1,6% do total de palavras na norma européia e cerca de 0,5 a 2,0% na brasileira. Por essas e outras razões, ele é rejeitado por muitos lingüistas (olha o trema aí, gente!), escritores e outras personalidades que discordam da sua aplicação por motivos políticos, lingüísticos, econômicos ou jurídicos.

A razão da demora em se aprovar este acordo deve-se à relutância de alguns países, como Portugal, em ratificar o que foi acordado em 1990. Até julho de 2004, era preciso que todos os países membros da CPLP ratificassem as novas normas, mas um acordo feito nessa data estabeleceu que bastaria a ratificação por parte de três países. Em 1995, o Brasil efetivou sua ratificação, seguido de Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e São Tomé e Príncipe, em dezembro. Faltava Portugal adaptar sua legislação às novas regras, o que foi feito hoje, em sessão planária do parlamento português.

Outras histórias

Até o início do século XX, tanto em Portugal como no Brasil, seguia-se uma ortografia que, por regra, se baseava nos étimos latino ou grego para escrever cada palavra (ex.: pharmacia, lyrio, orthographia, diccionario etc.)

Em 1911, no seguimento da implantação da república em Portugal, foi levada a cabo uma profunda reforma ortográfica que modificou completamente o aspecto da língua escrita, aproximando-o muito da atual. No entanto, esta reforma foi feita sem qualquer acordo com o Brasil, ficando os dois países com duas ortografias completamente diferentes.

Ao longo dos anos a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras foram protagonizando sucessivas tentativas de estabelecimento de uma grafia comum a ambos os países. Em 1931 foi feito um primeiro acordo, no entanto, como os vocábulos que se publicaram, em 1940 (em Portugal) e 1943 (no Brasil), continuavam a conter algumas divergências, realizou-se um novo encontro que deu origem ao Acordo Ortográfico de 1945. Este se tronou lei em Portugal, mas no Brasil não foi ratificado pelo Congresso Nacional, continuando os brasileiros a regular-se pela ortografia do vocabulário de 1943.

Novo entendimento ente Brasil Portugal e Brasil – efetivo em 1971 no Brasil e em 1973 em Portugal – aproximou um pouco mais a ortografia dos dois países, suprimindo-se os acentos gráficos responsáveis por 70% das divergências entre as ortografias.

À época, resistências semelhantes às de agora foram manifestadas. Escreveu, por exemplo, o jornalista Lago Burnett: “Feita a toque de caixa, com base na Lei nº 5.756, de 18 de dezembro de 1971, a mais recente reforma ortográfica, mal entrou em execução, permitiu que se detectasse um sem-número de palavras que, além da exceção oficialmente consentida do ‘pôde’, não podem passar sem o [acento] diferencial. (...) Descobri, por acaso, que a simples eliminação do artigo ou outra partícula antes de certas palavras contribui para torná-la carentes de acentuação. Gôsto de barro na manhã molhada. Tirem o circunflexo diferencial da primeira palavra (um substantivo) e eis-me reduzido, pelo verbo, a uma vítima de verminose, ansioso por encher de terra o ventre inflamado”.

Ironias à parte, ainda assim as tentativas de acordo entre Brasil e Portugal não pararam por aí. Novas vieram em 1975 e 1986, mas não vingaram, a primeira devido ao período de convulsão política que se vivia em Portugal, o PREC; a segunda devido à reação que se levantou em ambos os países, principalmente a propósito da supressão da acentuação gráfica nas palavras esdrúxulas (ou proparoxítonas).

No entanto, como, segundo os proponentes da unificação, a persistência de duas ortografias da Língua Portuguesa impede a unidade intercontinental do português e diminui o seu prestigio no mundo, em 1990 foi feita a nova reunião e lavrado um novo acordo, menos ambicioso e atendendo às criticas feitas às propostas de 1986.

Novas pressões

A atual reforma também vem sendo questionada. Em Portugal, ela sofre fortes pressões para que não seja aprovada, como a do Manifesto Contra o Acordo Ortográfico, online desde 2 de maio, que já reúne 33 mil assinaturas e foi entregue ontem ao presidente da Assembléia da República do país, onde a proposta da reforma foi votada pelo parlamento de Portugal.

No Brasil, mesmo que já aprovada, fala-se mais em custos e prejuízos que o acordo provocará ao mercado editorial. O governo brasileiro é um dos maiores compradores de livros didáticos do mundo. Só no ano passado, foram mais de 120 milhões de exemplares. Contudo, só o trabalho de preparação e revisão de cada livro, para as editoras, pode custar em média cerca de R$ 5 mil. A reforma levaria à súbita obsolescência de dicionários, gramáticas e livros escolares. Mas há quem já esteja se adaptando no universo virtual, como o Priberam, dicionário online, cujas novas versões e ferramentas já estão sendo atualizadas de acordo com as novas normas ortográficas.

Entrevista / Eraldo Maia

Eraldo Maia, estudioso apaixonado pela Língua Portuguesa, é professor da Fundação Educacional da Região dos Lagos (Ferlagos) e leciona também nas séries do Ensino Médio em escolas de Arraial do Cabo. Em entrevista exclusiva ao Lagos Alternativa, ele fala da posição pessoal que tem a respeito da reforma, tendo ele próprio acompanhado como professor (leciona desde 1968) a reforma de 1971. A exemplo da última, acredita, “tudo será uma questão de tempos para que todos se habituem às novas regras”.

LA - Como professor e estudioso da Língua Portuguesa, qual é a sua posição a respeito desse Acordo Ortográfico?

Eraldo -
Se o Acordo Ortográfico proposto realizar seu maior objetivo, o sonho do filólogo Antônio Houaiss, qual seja o de uniformizar a grafia das palavras de nossa língua nos oito países cujo idioma nacional é o português, terá sido, sem dúvida, conveniente sua implementação.

LA - O senhor acha realmente que este acordo vai simplificar a comunicação entre os países de Língua Portuguesa, ou ele não se faz necessário?

Eraldo -
É claro que, sendo medida relacionada à modalidade escrita da língua, havendo uma grafia uniforme das palavras em todos os países que fazem parte da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), a comunicação em registro escrito pode tornar-se mais ágil e mais precisa.

LA - Qual a maior dificuldade em se implementar mudanças desse tipo entre os usuários da língua?

Eraldo -
Trata-se de uma questão de tempo. Aos poucos, os que se valem da modalidade escrita da língua vão familiarizando-se com as novas normas ortográficas. A princípio, parecerá estranho grafar "antirrábico" e não "anti-rábico". Parecerá estranho, porém, para os já alfabetizados, uma vez que os alfabetizandos não sentirão estranheza alguma. Com o passar do tempo, já não se estranhará a nova grafia.

LA - A partir de agora, nas salas de aula, que são os locais por onde as novas regras ortográficas vão realmente começar, como fica? Qual deve ser a postura dos professores de Língua Portuguesa?

Eraldo -
Os professores devem começar a fornecer informações aos seus alunos sobre o conteúdo do Acordo Ortográfico, lembrando sempre que não é, exatamente, mudança na língua, mas tão-somente na transcrição gráfica de seus elementos lexicais, as palavras.

LA - Pelo que o senhor tem observado nas escolas, qual é a posição das pedagogas, diretoria, professores... As escolas já cogitam começar a se adaptar a isso? E nos concursos públicos, como ficam as questões de acentuação, colocação do hífen, o uso do trema (que já tentaram matar várias vezes, mas não morreu). O que passa a valer para as bancas?

Eraldo -
Pelo que percebo na minha experiência de docência superior e no Ensino Médio, as escolas ainda não estão levando em considerando prioritária a questão do Acordo Ortográfico. Há uma completa desinformação a respeito do assunto. Quanto aos concursos públicos, deve prevalecer, por enquanto, o que está prescrito pelo Acordo Ortográfico de 1943, com as alterações da minirreforma de 1971, até 2010, prazo para que oa livros didáticos se tenham adaptado às inovações da nova convenção ortográfica.

LA - O senhor já era professor quando houve a reforma ortográfica de 1971. Pode contar um pouco sobre os processos de adaptação da época? Aquele acordo já era um princípio dessa iniciativa de tentar unificar a grafia dos vocábulos entre os países de Língua Portuguesa?

Eraldo -
Não havia, na minirrforma de 1971, o propósito de unificação da grafia do português nos vários países lusófonos. Foi algo doméstico, que, diga-se de passagem, se houve muito bem ao abolir aquele acento circunflexo chamado de acento diferencial. De começo, lembro que era no mínimo esquisito escrever "ele", "olho", "este", "coco" e não "êle", "ôlho", êste", "côco". Foi só uma questão de tempo. Eu, por exemplo, alfabetizado em 1951, e leitor voraz, por vinte anos li e escrevi "aquêle", mas, com a abolição do circunflexo diferencial de timbre, em pouco tempo já me acostumara à nova grafia. Pena é que a minirreforma se tenha esquecido do diferncial de intensidade, mantendo os acentos em "pêra" e "pêlo", por exemplo. Com o novo Acordo Ortográfico, desaparecem esses diferenciais de intensidade: o substantivo "pera" e a preposição arcaica "pera", um dissílabo átono, passam a grafar-se igualmente. Aliás, sendo arcaica tal preposição, nem mais grafada ela é.

LA - O presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça, disse que "a reforma é bem-vinda, pois quando você simplifica, coloca a língua mais próxima do povo", e diz ainda que "a língua é um ser vivo e tem que estar em dia com a vida, com acréscimos e reduções". Já o professor Pasquale Cipro Neto considera que "esta é uma reforma meia-sola, que não unifica a escrita de fato". O escritor João Ubaldo Ribeiro, por sua vez, também destaca que "é uma reforma muito tímida, que não faz grandes inovações". Com qual desses o senhor concorda, e de qual descorda?

Eraldo -
Creio que, de certo modo, os três tenham alguma razão naquilo que dizem. Um projeto de unificação da grafia da língua é,sem dúvida, benéfico, mas talvez a reforma pudesse ser mais radical. Devemos ainda considerar a impossibilidade concreta de se efetivar uma uniformização total do português de todos os países que compõem a lusofonia. Afinal, se nossos irmãos lusitanos pronunciam "António", com uma vogal tônica de timbre aberto, e nós dizemos "Antônio", com o timbre fechado, como chegar a uma só grafia? Há que se considerar a especificidade de prosódia, que distingue (sem trema, antes e depois da reforma) a identidade da língua portuguesa nos diversos países em que ela é utilizada como meio de comunicação.

LA - Sobre a evolução da língua portuguesa falada no Brasil, o que podemos observar de mais interessante nesses mais de 500 anos de "falação"?

Eraldo -
Com a presença africana em nosso país, desde o início do processo colonizatório, como bem observa Gilberto Freyre, a língua portuguesa falada pelos brasileiros adocicou-se, suavizou-se em sua pronúncia, ganhou certa manemolência (quase todos dizem "malemolência"), tropicalizou-se como expressão mais condizente com a alma brasileira. A prosódia lusitana é mais sincopada, a nossa se arrasta preguiçosamente (no bom sentido, é claro). Além de ter-se enriquecido o nosso léxico com cerca de dez mil palavras cuja origem se encontra na língua tupi, aquela que os portugueses chamaram de língua geral.

Publicada também na Folha dos Lagos, em 17 de maio de 2008

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Nas filas da 'democradura'

Mal Traçadas

Por Thiago Freitas

A semana, para milhões de eleitores, está sendo de sereno à noite e sol na cabeça durante o dia, sem direito a ir ao banheiro ou saidinha para o lanche. Isso acontece em quase todo o país, por causa das filas nos Cartórios Eleitorais que se abarrotam de gente no final do prazo para regularização do título. Sinais de uma democracia? Não, não. De uma "democradura".

O desespero que toma conta dessa gente, que vai meio como gado tocado, deve-se ao fato, ao simples fato de o voto, no Brasil, ainda ser tratado com obrigação, não como um direito. Direito, quando se o tem, tem também o direito de dele abrir mão. É o livre arbítrio, o que não existe em nosso sistema. Ou vota, ou paga multa, ou tem-se o título cancelado.

Há ainda, como forma de repressão, aqueles que são condenados pela opinião pública quando manifestada a idéia de anular o voto. Mais uma vez, prevalece a concepção do voto como obrigação, a qual se entranhou em nossa cultura pós-Ditadura Militar. Mas convenhamos: vendo Alair Corrêa, Marquinho Mendes, Jânio Mendes e Paulo César como candidatos, fica difícil não ser tentado a cometer ato tão "vergonhoso, desprezível, condenável, criminoso". Mesmo assim, neste ano, quero que o voto se dane. E seria de bom senso se todos aqueles que não encontraram entre os pré-candidatos um que tenha o perfil ideal para governar fizesse o mesmo, até que apareça um. Não sei quanto a você, leito, mas podem xingar, esbravejar, fazer o que quiser... Estou de greve. Não voto. Ou me dêem alguém competente (e honesto), capacitado (e honesto), democrático (e honesto), sério (e honesto), ou deixem como está.

Bom seria se além dos pré-candidatos, os eleitores também fossem melhores. Verdade. Esses que costumam vender o voto em troca de qualquer saquinho de cimento, um carguinho qualquer na prefeitura, no gabinete daquele ou outro vereador, uma cadeirinha para esquentar a bunda nessa ou naqueloutra secretaria, façam assim: não votem. Fiquem em casa quando chegar o domingão da corrupção. Ganha a sociedade, ganham os cidadãos de bem, ganha a democracia verdadeira.


*Jornalista

quinta-feira, 13 de março de 2008

Está ali, ó, embaixo do tapete

 

Mal Traçadas

Thiago Freitas

eu

 

É só procurar que no final das contas sempre acha. Foi assim com o município de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, onde o prefeito foi afastado e metade do seu secretariado levada para a Polícia Federal, no Rio de Janeiro, com os bens apreendidos. O último escândalo de corrupção da “República do Chuvisco” está servindo para mostrar que ainda existe esperança para a sociedade brasileira, e um motivo para os gestores públicos terem medo, sim, de cometer excessos com a máquina pública. E é pegando carona nesse episódio que arrisco instigar uma ação como a feita em Campos, por parte do Ministério Público e da PF, aqui em Cabo Frio. Senhores, está logo ali, ó, bem embaixo do tapete.

Levantem os sofás dos gabinetes, vasculhem as gavetas da Câmara, ouçam as conversas telefônicas, porque por aqui também pode existir sujeira. Improbidade administrativa não é exclusividade dos municípios de Magé, Angra dos Reis, Silva Jardim, Campos etc.

Comecemos por algo simples. Favorecimento pessoal e nepotismo. É ou não é proibido por lei? É. Mas aqui isso é natural, e ninguém questiona. São “Mendes” e mais “Mendes” ocupando cargos administrativos no poder público municipal. É a famosa gestão familiar. O cara é eleito e mais da metade da família está empregada. Aonde? Na prefeitura, ué. Tem um gaiato desses que responde até por uma construtora. Que presta serviço para quem? Para prefeitura, ué.

Quando da demissão dos funcionários do quadro do governo que pertenciam ao grupo de Alair Corrêa, o ex-prefeito, a lista era mais do que uma lista de exoneração motivada por racha político, era um tiro no pé de ambos os gestores, do antigo e do atual: uma avalanche de “Corrêas”, uns com parentesco mesmo, outros, sim, por mera coincidência. Mas ninguém chiou. Bom lembrar: nenhum concursado entre os citados.

Enriquecimento ilícito. Creio que os automóveis luxuosos em que andam vários figurões do governo não são, de forma alguma, carros com valores compatíveis com os salários que recebem pelos  serviços prestados à população. Salários esses pagos por ela. Um salário de vereador, secretário, prefeito, seja lá o que for, não arca com as despesas de Hondas Civics, Eco Sports ou caminhonetes avaliadas em mais de R$ 70 mil, isso sem falar em emissoras de TV, jornal, fazendas de avestruz e o escambau. “Mas eles têm profissão”, dirão. “Eu sou médico”, dirá um, “eu sou engenheiro”, argumentará outro, “e eu advogado; é de onde arranco meus proventos”, se defenderá um terceiro. Mas o dia só tem 24 horas, a menos que sejam onipresentes para darem conta de administrar um município com 160 mil pessoas e trabalharem em suas empresas particulares. E ninguém chia. Nem o MP. O que houve, afinal, Cabo Frio não está no mapa?

[Vasculhem, revirem, levantem os tapetes do poder. Vocês vão achar casos muito, muito parecidos com os de Campos]

Vasculhem, revirem, levantem os tapetes do poder. Vocês vão achar casos muito, muito parecidos com os de Campos. Obras com licitação irregular? Superfaturamento? Desperdício de dinheiro público? Serviços mal prestados? Contratações irregulares? Vasculhem, revirem, levantem os tapetes do poder. Cadê os R$ 500 milhões? Para onde foram? Quando acharem algo comprometedor, me chamem. Estarei lá para retratar que o Brasil não é mais o país da impunidade.

 

*Jornalista

quinta-feira, 6 de março de 2008

Estou nessa boca

Na toca com o lobo

Fausto Wolff

O TEMPO passa para todos. Para uns, correndo, e para outros, em marcha lenta. Passa devagar para quem está preso e mais devagar para quem está sendo torturado; não acaba nunca para o operário, que tem de tomar três conduções para descansar em casa por algumas horas, que, essas sim, passam rapidamente. Já para as crianças em geral, o Natal parece demorar demais. No mundo da política, ou seja, do crime oficialmente organizado, as coisas são rápidas. Depois que FHC comprou do Congresso o segundo mandato, todo presidente eleito só pensa em fazer algo no fim do primeiro mandato. Por exemplo: aumentar em uma miséria o salário dos pequenos funcionários públicos, que, como ganham uma miséria, não têm tempo para o público. No segundo mandato ele não fará nada, a não ser que consiga comprar um terceiro.

Para o jornalista, o tempo passa rapidamente demais. Ele esquece hoje o nome do ladrão de ontem. Quando eu ajudava o Jaguar a editar o Pasquim, no tempo das Diretas-Já, sabedores de que é impossível guardar o nome de todos os políticos que trabalham contra o povo, decidimos fazer uma eleição. Leitores de todo o país responderam à pergunta: "Qual o político mais corrupto do Brasil?" Achávamos que Maluf seria barbada. Mas o Pará em peso deve ter votado e deu Jader Barbalho por focinho. E eles eram jovens, sabiam que um futuro sórdido e lucrativo os esperava. Maluf passou alguns dias na cadeia e acha que não deve nada à Justiça: nem os milhões de dólares que mantém em bancos estrangeiros. Ao contrário, diz que Lula lhe deve um favor, pois sua prisão tirou das manchetes por alguns dias a turma do mensalão. Alguém lembra os nomes dos meliantes? Mas o que digo? Meliantes? Posso ser processado, pois os nobres deputados, como gostam de ser chamados, absolveram todos os mensalonários, menos três. Estão soltos e com o dinheiro roubado certamente se reelegerão. Jader Barbalho tem feito low profile, ou seja, tem ganhado sem trabalhar, onerando assim, por incrível que pareça, um pouco menos o Tesouro nacional. Chegou a usar algemas por alguns minutos, mas logo um juiz bondoso mandou acabar com aquela maldade. Acha que por causa dessa rápida humilhação já pagou pelo dinheiro surrupiado.

A emenda Dante de Oliveira, que pedia as diretas, foi vitoriosa (222 x 65 votos), mas rejeitada por falta de quórum. Diante disso, eu e o Jaguar publicamos no Pasquim as fotos 3x4 dos congressistas que haviam votado contra as diretas. Eram apenas 65 descarados. Os demais não foram, daí a falta de quórum. Publicamos as fotos para que ninguém se esquecesse dos facínoras. Hoje só me lembro do nome do bizarro ex-maoísta Moreira Franco. Ou foi o Medina? Todos sabiam que, nas eleições indiretas, o Tancredo Neves, um conciliador, seria barbada contra o Maluf, que nem Figueiredo queria. Eu, porém, lembrei no Pasquim que tramitava na Câmara a emenda Theodoro Mendes, que pedia eleição direta em dois turnos. Ou seja, poderíamos ter tido as diretas em 1984 e, em vez disso, tivemos o desgoverno de Sarney. Saiu tão impopular que foi se eleger pelo Amapá, onde era mais fácil.

Eta Brasilzinho bom: José Ribamar está em liberdade, impediu que o PMDB lançasse o nome de Simon para a Presidência e tem contas pendentes com a União superiores a R$ 1 bilhão. Já Alberto Capiberibe, senador amapaense pobre, honesto e nacionalista, foi cassado sob a denúncia de que teria pago R$ 28 por um voto. Como o tempo passa depressa, ninguém se lembra mais do líder do governo no Senado. É o nosso velho conhecido Romero Jucá, de Roraima, homem de convicções tão rígidas que foi líder de Fernando Henrique Cardoso no Senado. Foi obrigado a deixar o Ministério de Lula por irregularidades cometidas quando era governador. Por irregularidades entenda-se... Ah, esqueçam e cantem comigo: "Eu também estou aí, estou aí, o que é que há, estou aí nessa boca. Muita bebida, mulher sobrando, tem até trouxa nesse samba se arrumando". E o tempo passa.

faustowolf f@jb.com.br

quarta-feira, 5 de março de 2008

Caros leitores

Quando eu disse “caros leitores”, queria, na verdade, dizer “caros leitores e colaboradores”. Sim, porque disso é feito este blog, de pessoas que escrevem e de pessoas que lêem, e, no fim, tornam-se únicas pela magia da comunicação. É exatamente por essa razão que venho me comunicar com todos para informar o que deve ser não só de interesse, mas também de direito daqueles que adotaram o Lagos Alternativa como uma leitura (diária, semanal, mensal, esporádica, tanto faz).

De certo muitos devem ter se perguntado o que houve com o blog, já que ficou por um tempo desatualizado, sem novas postagens. É que começo a entender o quanto é difícil, sozinho, sustentar um veículo de comunicação, seja ele qual for. Exige tempo, dedicação, esforço, muito esforço. Exige se fortalecer, revisão de conceitos, busca de novos parâmetros. E, o principal, sustentabilidade. O que até o momento não existe. Mas que se dane! O projeto do blog era para ser isso mesmo, um jornalismo romântico que remonta o antigo e avança para um novo, quebrando os paradigmas formados nos últimos anos de imprensa.

Este breve comunicado, que já vai longe demais para o que deveria ser, tem uma função única: dizer que vamos fazer o possível para continuar, que não vamos esmorecer, principalmente num ano decisivo para a história política e cultural das inúmeras cidades que integram nossa região e de outras vizinhas. Vamos tocar o Lagos Alternativa. Vamos lutar para dar voz a todos que quiserem ser ouvidos. Vamos, assim mesmo, a reboque de exemplos como a turma do Pasquim, da Caros Amigos e de outros veículos alternativos (que sofreram e sofrem até hoje pela falta de grana), levando, empurrando... Deixemos para ver no que dá. Até porque, em várias fases da vida, tenho certeza de que todos vocês já se viram assim como eu, sempre no começo. E jornalismo é isso mesmo, um dia de cada vez.

Forte Abraço!

Thiago Freitas