sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Solecismos e francesismos


Ora, sim, pois, pois

Eraldo Mai


Solecismo, para quem não sabe o que isso seja, é qualquer desvio da norma gramatical referente à concordância, regência ou colocação, isto é, uma transgressão relacionada à organização sintática de uma sentença. Assim, por exemplo, a posposição de um pronome átono ao verbo, caso haja, antes dele, uma palavra negativa, corresponde a um solecismo de colocação. Coisas como “Não deram-me a menor importância” correspondem a esse “vício” de linguagem. O certo, diria a veneranda Gramática de nossa língua, é “Não me deram a menor importância”, uma vez que, com a tal palavra negativa anteposta ao verbo, a próclise se faz obrigatória. Próclise é exatamente a anteposição do pronome oblíquo átono ao verbo. Também teríamos um caso de solecismo em frases como “Assistimos o jogo pela televisão”, porque, de acordo com a lição dos livros dos gramáticos, o verbo “assistir” é, quanto à sua regência, um verbo transitivo indireto, exigindo um complemento preposicionado. É claro que, no registro coloquial distenso, tal verbo é tratado mesmo como transitivo direto, e seu complemento não se preposiciona. Os livros didáticos, porém, e os censores da língua querem porque querem que o verbo seja transitivo indireto, e seu complemento seja antecedido de preposição. Não ocorrendo assim, houve um solecismo de regência.

Pois é exatamente em torno de um solecismo, de um bendito solecismo de regência, que escrevo a primeira parte desta matéria. A cena se passa há quase quarenta anos, mais precisamente em l968 (ano da Passeata dos Cem Mil), lá na Faculdade de Direito da UFRJ, quando eu cursava o terceiro ano do meu bacharelado. Havia uma prova de Direito Processual Penal. Naquele ano, já namorando aquela que se tornaria minha mulher por toda a vida, e a quem conheci na faculdade; dedicando-me à política universitária, aos atos de repúdio ao governo militar e ao imperialismo ianque, eu pouco freqüentei os bancos da escola. Ia mesmo só fazer as provas semestrais, mas, nas aulas, pouco dava o ar de minha graça. Foi justamente numa das provas, aquela referida acima, que a coisa aconteceu.

Entra na sala o professor. Constata que, para fazer a prova, há muitas dezenas de alunos, embora fosse baixíssimo o comparecimento às aulas. Exterioriza, então, sua indignação, alegando que não conhecia grande parte dos alunos que, na sala, se encontravam. Começa a olhar para nós, e eu, envergonhado, procuro não me fazer notar, porém seus olhos batem em mim. Com rispidez, pergunta-me: “O senhor é aluno da faculdade”? Confesso que, na minha irreverência de 22 anos, tive ímpetos de responder que não, que estava ali só de sacanagem, mas é óbvio que não me atrevi a tanto. Disse-lhe que era aluno regularmente matriculado. O mestre, então, pergunta-me se eu podia provar minha condição de aluno, justificando-se: “Sim, por que eu não lhe conheço”.

Foi a minha salvação: o professor cometera um tremendo solecismo. O verbo “conhecer” pede complemento sem preposição, conseqüentemente o pronome “lhe” não deve ser usado como seu complemento, já que sua função, de acordo com o que preceitua a norma culta é de objeto indireto. Quem conhece não conhece a alguém, conhece alguém. Assim, diante do “Eu não lhe conheço” do meu professor de Direito Processual Penal, jurista conhecidíssimo e respeitado, levanto-me da cadeira, inclino um pouco o meu corpo pra frente e digo em voz bem alta: “Mas eu o conheço, eu o conheço muito bem, professor”! O mestre percebe a gafe, avermelha, olha na minha direção e diz-me: “Está bem, está bem, pode sentar-se e fazer sua prova”!

Ufa! Salvo por um solecismo de regência!

O outro “causo” que me lembra (eis uma regência que Machado de Assis adorava: em vez de alguém lembrar algo ou lembrar-se de algo, algo é que lembra à pessoa) envolve um purista e sua teatralidade. O ano era o de l972. Eu já lecionava em cursinhos pré-vestibulares. Estava na PUC do Rio de Janeiro, esperando alunos que sairiam das salas onde faziam a prova do seu vestibular.

Entre os meus pupilos, havia um, cujo nome não recordo, mas de quem jamais esquecerei, excelente aluno, que, saindo da sala onde fizera a prova, conversa comigo a respeito da redação. O tema girara em torno de um poema de Drummond sobre a bomba atômica, que eu já analisara com meus alunos numa das aulas do cursinho. Meu pupilo dizia-me que tentara lembrar-se de tudo o que eu dissera sobre o poema, mas que não conseguira. Para consolá-lo, disse-lhe que, certamente, ele se esquecera de algum detalhe.
Pra que fui dizer detalhe? Perto de mim, estava um professor de um cursinho rival daquele em que eu trabalhava. Eu era um garoto de 26 anos; ele, um homem já maduro, de mais de 40 anos. Tido como um purista do vernáculo, ou seja, daqueles que odeiam palavras estrangeiras, os chamados barbarismos, horroriza-se com a palavra que eu dissera. Já houve tempo ( e a década de 70 já não era esse tempo), em que os tais puristas repudiavam palavras de origem estrangeira e, ridiculamente, criavam, com radicais gregos e latinos, outras que a elas sucederiam. Assim, por exemplo, em lugar de futebol, criaram ludopédio e balípode; em lugar de “soutien” (pasmem!), porta-seios; e anidropodoteca para substituir galocha. Pois o professor purista não tolerara o emprego da palavra “detalhe”.

“Mestre”, ele grita, abrindo os braços dramaticamente pra mim,”não diga detalhe, diga pormenor, porque detalhe é um galicismo”! Pode uma coisa dessas? Não dizer detalhe, dizer pormenor? Mas espera aí: que foi que ele disse mesmo? Detalhe é galicismo?

Então, do alto da minha juventude e dos meus cabelos longos, sorrindo pro meu acusador, revidei educadamente: “Mestre, não diga galicismo, porque galicismo já é um francesismo, não é”? O meu rival amarelou, engoliu em seco, tentou brincar, dirigindo-se ao diretor do meu cursinho: “O passe do Eraldo está à venda”? O discurso, agora, era outro.

Eis como conhecer certos pormenores (detalhes não, porque detalhe é francesismo) da língua pode nos socorrer em certas situações embaraçosas.



*Poeta e professor de Língua Portuguesa da Ferlagos

Conversos


Eraldo Mai
Advento

Havia Deus que dormia
E o rosto de Deus sorrindo
Deus desligado do mundo
Descansava e era bonito
Ver Deus dormindo e o sorriso
Quem sabe com que sonhava?

Lá na barriga de Deus
Deus aos poucos se fazia
Em novo corpo tecido
O mesmo Deus residindo
Na pessoa que dormia
Naquela que nela estava

Era a vida florescendo
No ventre da própria vida
Era o amanhã se tecendo
Dentro daquela barriga
Era a espreita da colheita
Da mais perfeita alegria

Siempre

Me gusta el frio
Cuando hace frio
Y me gusta el calor
Cuando hace calor
Me gusta la lluvia
Cuando llueve
Y me gusta el sol
Cuando hay sol

Me gusta Dios siempre
Porque siempre hay Dios
Y me gusta la gente siempre
Porque siempre en la gente
Hay Dios


*Poeta e professor de Língua Portuguesa da Ferlagos

Quem inventou esse tal de Estado?


Mal Traçadas


Thiago Freitas

Confesso. Nos últimos dias, ando com os sentimentos meio à flor da pele. Às vezes, me flagro chorando diante da TV, lendo jornais ou assistindo a certos filmes, como À Procura da Felicidade. Os absurdos que presencio me tocam o coração feito socos, socos repetidos, numa seqüencia ininterrupta de golpes.

Não foi sem me revoltar, e questionar muito, que acompanhei durante todo o mês de novembro o caso da menina de 15 anos, presa, em Abaetetuba, no Estado do Pará, em uma cela com 20 homens, onde sofreu todo tipo de abuso sexual em troca de comida.

Perdoem-me o excesso de sentimentalismo implícito neste texto, mas meu maior defeito – tem quem considere isso qualidade – sempre foi não separar meu eu-cidadão do eu-repórter. Afinal, que merda de Estado é esse que permiti tamanho absurdo e classifica isso como um erro? Não foi um erro, foi um crime, cometido por nosso Judiciário, por nossa polícia, por nosso Legislativo, Executivo e todo resto.

Em São Paulo, o mesmo aconteceu com o caso do delinqüente ciumento que seqüestrou, pela segunda vez, a ex-noiva, conseguindo concretizar aquilo que não havia conseguido na primeira tentativa: matar aquela que era vítima de sua possessão. Para isso contou com a “ajuda” do judiciário, que o concedeu liberdade provisória um mês depois dele ter se entregado à polícia. O primeiro seqüestro ocorreu em junho deste ano. Tem quem diga que a Justiça cometeu um erro. Eu diria, sem pudor, que a Justiça foi cúmplice de um assassinato ao colocá-lo novamente nas ruas.

Na Região dos Lagos, barbaridades como essas, infelizmente, não são menores. A violência, assim como a impunidade e suas conseqüências, por aqui, não deixa nada a desejar para a que ocorre nos grandes centros urbanos. Recapitulando: uma menina de cinco anos é estuprada e jogada morta dentro de um buraco qualquer em Arraial do Cabo; um menino, de oito, também é violentado pelo padrinho, no bairro da Ogiva, em Cabo Frio; outro animal – os animais que me perdoem – sem alma violentou uma criança de dois anos... E nosso coronel Adílson Nascimento, comandante do 25º Batalhão da Polícia Militar, tenta nos convencer, através de números infundados, de que “a violência na região não aumentou, mas, sim, a polícia é que está mais atuante”. Fato é que ninguém, diante de seus erros – ou crimes – sabe dar uma explicação que convença os milhares, milhões de cidadãos que esperam um mínimo de sentido nessa tal sociedade gerenciada por nosso Estado, constituído por seus Três Poderes. É por isso que tanto o Adílson como o Lima Castro - este último já deixou o cargo e foi errar em outras bandas - de boca fechada são verdadeiros poetas. Uma dupla perfeita de parnasianos que muito falam sem nada dizer.

E nossa grande imprensa, o que dizer dela? Voltando ao fato da menina do Pará. Leitores, realizem comigo: foi um preso que saiu da cadeia e foi até a escola, conseguiu uma cópia da certidão de nascimento da menina e se dirigiu ao conselho tutelar. A mãe dela, que apareceu pedindo justiça após o caso explodir na mídia e a menina ser libertada, onde estava esta pobre mulher que não tomou ela própria essas providências? Os presos, por que foram transferidos? E por que a menina foi retirada do Estado do Pará junto com o pai biológico, ambos ameaçados de morte (também não dizem por quem) enquanto que a mãe permaneceu por lá? São questões que a imprensa, claro, não tem obrigação de responder, mas o dever de perguntar, isso tem. Eu, por enquanto, fico aqui, entre lágrimas, letras e o sentimento de revolta, de insegurança, de impotência. Ainda não duvido da existência de Deus. Mas uma pergunta chata, impertinente, insiste em me martelar a cabeça a cada edição de jornal, a cada fato presenciado no dia-a-dia desse mundo cão: quem foi o louco, o imbecil ou desocupado que inventou esse tal de Estado?




*Jornalista

A liberdade de escrever



Nossa Imprensa

Octavio Perelló

Por falta de outro que atendesse à idéia deste artigo, afanei o título acima. Roubei-o de um livro que considero obra capital de Erico Veríssimo, A liberdade de escrever – Entrevistas sobre literatura e política (Editor Globo, 1999, 210 páginas). Com apresentação de Luis Fernando Veríssimo e organização de Maria da Glória Bordini, trata-se da compilação de parte substancial do pensamento do escritor, em reunião de entrevistas memoráveis. Erico Veríssimo, este que, como poucos, viveu de literatura, nos legando sua ficção monumental e um punhado de opiniões e posicionamentos corajosos.

Os livros, sem exagero, são o que detém a liberdade do planeta. Não se iludam, meus parcos e pacientes leitores, não há liberdade total, em nenhuma mídia, senão nos livros. Os ideais mais libertários, desde o advento do livro, estão impressos nestes, e não há jornal que o conteste. As artes são livres e libertárias, mas as letras impressas nas páginas dos livros são mais, estejam reportando fatos reais ou costurando narrativas de ficção. A literatura, em seu sentido bibliográfico, não é somente linguagem, carrega a língua documentada. É nesta fonte que bebemos desde as primeiras letras.

Neste exato momento, ao traçar estas modestas linhas, não posso acreditar que a Internet é um canal de livre expressão. Sinceramente, não é. Mesmo que sejam acessados de forma democrática, sites e blogs são regulados, em seu conteúdo, pelo dispositivo invisível da censura, seja da autocensura do escriba ou da tesoura do editor. Afinal, há limites que se impõem pelo respeito ao leitor, coisa que nos livros não ocorre. Por sua verve libertária, são os livros os maiores alvos de censura em toda a História, desde as fogueiras medievais que, além de páginas e encadernações, também esturricaram muitos autores. Desde os romances picantes que ruborizaram moças curiosas, até as mais contundentes idéias publicadas que abalaram o mundo e o transformaram.

Ao longo da História avança e recua a imprensa, mesmo escrevendo páginas importantes. Evidentemente que sempre houve a imprensa resistente a políticas totalitárias e arbitrárias – um ou outro segmento sobrevivendo às margens do sistema. Porém, muito antes da primeira pressão ou do primeiro atentado a uma redação, os livros já haviam freqüentado imensas fogueiras. Estes sim nos legam o conhecimento de muitos séculos. O legado religioso e científico nos foi trazido pelos livros; as ideologias perduraram mais pelos livros do que pelos sistemas que implantaram. A liberdade de escrever jamais foi tão suprema em outro território.

Não pretendo, com estas opiniões, aprisionar a atuação da imprensa nas masmorras perpétuas do sistema. Apenas externo uma reflexão que sempre me acompanha sobre a liberdade de escrever. Não me refiro à liberdade de falar, inclusive de caluniar ou exagerar em elogios, mas sim da incomensurável liberdade de escrever, que maior não há do que nos livros, na literatura.



* Jornalista, arquivista, especializado em Gestão de Centros de Documentação e Informação, atualmente diretor-geral da Câmara Municipal de Cabo Frio e colaborador da Revista Cidade, com passagens por importantes assessorias de imprensa e agências do Rio de Janeiro, tais como Bradesco Seguros e Previdência, Básica Comunicação, Shopping de Comunicação e FSB Comunicações, e veículos, agências e assessorias de imprensa do interior do Estado, como Folha dos Lagos, O Canal, Cox Propaganda, Humanóides Produtora, Prolagos e Prefeitura de Búzios. Autor de Memórias de um mouro (Prêmio IV Concurso de Contos da Prefeitura de Niterói, publicado pela Niterói Livros em 2006) e Colóquios de Vespúcio e Colombo (Prêmio Teixeira e Souza de Literatura 2003 / Prefeitura de Cabo Frio).

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A todos, um Feliz Natal!



O Lagos Alternativa deseja a todos leitores e colaboradores deste blog um feliz Natal, repleto de paz, amor, fé, saúde e luz. E que ao comemorar o nascimento de Jesus, mesmo aqueles que não crêem, todos vejam nascer em si a força necessária para seguir em frente, fazendo deste mundo um mundo melhor. É este o nosso ideal.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Larga do meu pé, jacaré, ou deixem os Campos de Dunas do Peró em Paz


Verde que te quero verde


Juarez Lopes

O grande embate que se anunciava nas décadas de 70 e 80, quando Cabo Frio foi precursor, em nível estadual, da tentativa da revelação de uma consciência ecológica, a chamada ecologia profunda, chegou. A cidade de Cabo Frio é, atualmente, o foco (ou seria alvo?) das atenções dos grandes investidores, antes travestidos de especuladores imobiliários, só que, como o filme queimou, agora se apresentam como investidores em eco-sustentabilidade. A arrogância é tanta que um dos seus principais representantes, o chefe da tribo, o Robredo Ambrófilo, em um dos seus encontros, num desses balcões de negócios, falava:

“... vejam só, nobres senhores, aqueles ambientalistazinhos querem interromper um ‘negócio’ de R$ 500.000.000 (quinhentos milhões de reais), só porque na nossa área tem uma plantinha, uma tal de jaquinia, e o que é pior, tem um tal de um passarinhozinho, acho que o nome dele é formigueiro do litoral, que faz uns buraquinhos por lá, e eles, os tais ambientalistas, querem proteger. Ora amigos, eu vos pergunto: esses ambientalistas se preocupam com a favela do buraco do boi? Se preocupam com as invasões da APA de Massambaba?”

A fala desse digníssimo representante poderia se encaixar na boca de qualquer um desses grandes personagens da recente história mundial, aqueles que pregaram o apartheid, o absolutismo, o racismo, a raça pura, o ódio pelo outro, ou seja, o discurso único, a vaidade, o preconceito, a falta de conhecimento, a insensibilidade.

Senhor Robredo Ambrófilo, se o senhor não sabe, não estamos diante de um lugar qualquer, de um valor qualquer, de uma equação pura. Estamos diante de um patrimônio público mundial. Algo que é capaz de gerar tudo que o senhor propõe, com uma significativa vantagem: é pra sempre. Inalienável. Indissociável. Geradora de sonhos, como os que sonhou Albert Einstein.

O campo de Dunas do Peró, nosso maior patrimônio, não se fez por manipulação genética, por negligência administrativa. Quem o fez, fez com muita categoria e sapiência. Deixe-o em paz, por favor! Afinal, “... de que me serve um saco cheio de dinheiro, pra comprar um quilo de feijão?”



*Engenheiro Civil, sanitarista e ambientalista

Os cínicos e o cigarro

Esquerda, volver!


Avelino Ferreira


Está provado: o cigarro dá muito prazer, ao mesmo tempo que provoca males. Aliás, como o açúcar, a gordura, o álcool. Mas, dizem os estudiosos, o fumo dá muito mais prazer que as outras drogas e, por isso, é mais difícil deixar de fumar que deixar o crack, a cocaína, a maconha, a gordura, a carne bovina, o álcool etc..


No que tange ao fumo, parece que tudo começou com os tupinambás, que pitavam um cigarrinho de fumo de rolo, fato que foi motivo de relato do capelão da primeira expedição francesa ao Brasil, em 1556, segundo conta Mário César Carvalho no seu livro O Cigarro. O autor omite que não foi o câncer que dizimou os índios, mas sim as armas de fogo.

As invasões européias à terra da Santa Cruz permitiram aos brancos experimentarem um fuminho e, como gostaram muito de uma tragada, introduziram o produto do Novo Mundo em Portugal e Espanha. Depois, em outros países do Velho Mundo.

Fumar cigarro era raridade até o final do século 19. Em 1880, cerca de 58% dos usuários de tabaco eram mascadores de fumo, 38% fumavam charuto ou cachimbo, 3% cheiravam rapé e apenas 1% era fumante de cigarro. Nesse ano, o americano James A. Bonsack inventou uma máquina capaz de enrolar 200 cigarros por minuto, o que criou condições para o aparecimento da indústria de cigarro.

Durante a I Guerra Mundial, os soldados recebiam cigarros. Era uma maneira de diminuir a tensão, a ansiedade, e seu uso, que se achava restrito às camadas marginais das sociedades americana e européia, explodiu. Em 1900, o consumo anual americano era de cerca de 2 bilhões de cigarros; em 1930, chegou a 200 bilhões. Após a II Grande Guerra o hábito de fumar se espalhou pelo mundo, envolta em glamour por Hollywood, como símbolo de modernidade.

Nas últimas décadas, no entanto, o fumante passou a ser olhado como criminoso. As leis foram se sucedendo e, cada vez mais duras, até o ponto da proibição total do fumo em locais fechados. Restou a rua, mas mesmo nela o fumante é olhado como um marginal. O Japão chegou ao extremo de considerar crime o ato de fumar. Mesmo na rua é proibido uma tragada. Além de ser multado, o infrator vai preso e fichado.

Todos que fumam e morrem de câncer, o motivo é o cigarro. Agora mesmo aproveitam a morte de Paulo Autran para espalhar aos quatro cantos que o ator morreu por causa do fumo. Os dados, segundo os denunciadores do fumo como mal do século, não mentem jamais: quem fuma tem mais chances de contrair doenças de pulmão que os “normais”; 15% dos dependentes do cigarro morrem de câncer e outros 15% morrem de enfisema pulmonar. E são 25 milhões de fumantes no Brasil. Só não revelam as pesquisas sobre as mortes provocadas por enfisema pulmonar, por câncer e por problemas de coração em não-fumantes.

Não sei o que nem quem está por trás dessa campanha contra o tabaco. São os mesmos que toleram a bebida e combatem a maconha. São os que fumam, bebem e se drogam (drogas legais e ilegais).

Quando Paulo Autran morreu, aos 85 anos de idade e trabalhando, um cínico apressou-se em dizer que foi o cigarro. Só não disse que ele chegou aos 85 anos muito bem em relação aos milhões que morrem antes. Muito antes. E morreu numa idade muito acima da média dos não fumantes. Para concluir: perguntaram a um japonês bastante idoso sobre o segredo de sua longevidade. O centenário japa respondeu, na bucha: “nunca fiz nada do que não gosto”.


*Jornalista, pós-graduado em Filosofia

Diálogo entre Deus e um cientista ateu

História & Sociedade


José Francisco de Moura


O ateu acabara de morrer. Tratava-se de um grande cientista, um biólogo renomado que buscava como um louco descobrir a cura para o câncer. Ele não acreditava em vida após a morte e muito menos em Deus.

Qual não foi sua surpresa ao notar que estava vivo após ter morrido, mas com um outro tipo de corpo. Mas a surpresa não ficou por aí. De repente, viu uma grande luz e ouviu uma voz forte: “Olá, meu filho”. Assustado, o ateu perguntou: “Quem é você?”. “Sou Deus”, disse o ser iluminado. “Então o Senhor existe?”, perguntou o ateu assustado. “Sim, mas você nunca acreditou em mim”. O ateu respondeu: “Não havia provas suficientes. Muitos diziam que o Senhor era um velho rabugento, outros que existiam vários deuses, outros que o Senhor era só uma energia. Ninguém tinha provas de nada, só falação vazia, só interesses materiais, fanatismo e loucura irracional”, completou. “Sim, nisso eu tenho que concordar com você”, respondeu Deus.

Entusiasmado com o papo, o cientista ateu, sempre com fome de conhecimento, foi logo perguntando: “O senhor criou o Universo? Os evolucionistas estavam errados?” . Deus olhou com compaixão para o ateu e disse: “Eu criei os mecanismos para que a evolução se desse e o mundo se auto-regulasse. Criacionistas e Evolucionistas estão errados e certos ao mesmo tempo”, respondeu Deus. Encantado com a resposta, o ateu disse: “Mas se o Senhor criou tal complexidade que é o universo o senhor é um grande cientista, o maior de todos. Sabe, então, que necessitamos de provas e evidências para chegarmos às verdades”. “Sim, eu sei”, completou Deus.

Querendo continuar a se justificar por não ter acreditado em Deus quando vivo, o cientista ateu continuou a dar vazão aos seus argumentos. “Olha, Senhor, lá na Terra sempre teve muita gente se dizendo seu intermediário e falando em seu nome. Criaram mil e uma religiões e templos onde dizem que o Senhor está. Muitos cobram dízimos dos fiéis dizendo que é para a sua casa”. Deus, então, olhou sério e disse: “Meu filho, se eu criei o universo você acha que eu preciso de dinheiro, essa coisa suja que vocês inventaram e que por ele fazem qualquer atrocidade com seus irmãos?”. “Claro que não”, completou o já encantado ateu. “Mas e os que estão lá falando em seu nome? E os que afirmam que só quem segue a fé deles chegará ao Senhor?”, insistiu o ateu. “Para esses Eu tenho o pior dos castigos. Vão ficar muito tempo com o meu parceiro, o Diabo”.

O ateu quase caiu da cadeira de plasma onde estava ao ouvir aquilo. Perguntou quase imediatamente: “O Diabo existe? Ele é seu parceiro? Sempre ouvi dizer o contrário’. “Sim, ele existe, ele me poupa de conviver com muita gente detestável, dentre elas os que dizem falar em meu nome sem que eu tivesse dado permissão para isso e sem que se preocupassem verdadeiramente em melhorar os corações e mentes. Eu dei a razão para vocês para que a usassem e não para que criassem mil superstições em meu nome. Aqueles que ajudaram a suprimir a razão das mentes em nome de uma fé louca e cega em algo que nem provas tinham da existência serão os mais cobrados”.

“E quanto a nós, cientistas? Na Terra 91 % dos cientistas não acreditam no Senhor”, perguntou o ateu de forma tensa. “Se não acreditaram em mim falta de provas, por desconfiarem dos mercadores da fé que falam em meu nome, não tem problema. Se forem bons com o próximo e tentaram ajudar a humanidade com suas pesquisas, então são como se tivessem acreditado”, responde Deus.

O ateu aliviado, então, perguntou: “Então posso ficar por aqui? Posso ficar próximo do Senhor?”. “Sim, meu filho, tenho aqui um lugar para que você continue suas pesquisas, agora em um outro nível”. E abriu uma porta onde centenas de milhares de outros cientistas trabalhavam, uma espécie de laboratório celeste. “Uau”, gritou o cientista: “Vou poder continuar meu trabalho. Imaginava que o paraíso era um tédio só, um lugar que tinha de tudo que precisávamos e que só teríamos que ficar louvando o senhor eternamente. Alguns diziam que tinham até virgens esperando por eles”. Deus riu e completou: “Você acha que minha vaidade é tamanha que preciso que fiquem eternamente me louvando? Você acha que eu criaria um paraíso para vagabundos, um lugar onde ninguém trabalha? Aqui se trabalha, e muito. Só que não há cansaço. Quanto às virgens e outras coisas que inventam ter por aqui, é porque essa gente da Terra transfere para o cá seus anseios materiais e carnais, seus piores desejos”.

Impressionado com a resposta, o cientista entrou na sala e foi logo se ambientando com os colegas. Em pouco tempo, feliz e contente, já estava envolvido em mil tarefas celestes. Aqueles que mais falavam de Deus não foram vistos no paraíso. Os cientistas apenas imaginavam onde deviam estar.




*Professor de História e Doutor em História da Grécia

domingo, 16 de dezembro de 2007

No way out

X-Tudo

Cacau

Quando Nixon tentou a reeleição na década de 70, houve um instante em que o Partido Democrata quis desmascará-lo taxativamente, acusando-o de mentiroso. Quase o conseguiu. Teria sido um erro. Não que Nixon não demonstrasse sê-lo, mas porque em propaganda, funcionam estímulos e não respostas. Dizer: “ESTE HOMEM É MENTIROSO”, debaixo de uma foto em close do Nixon seria a resposta a ser obtida e, certamente, teria causado repulsa em, no mínimo, metade do eleitorado.

Ao invés disso, sabiamente, o que se escreveu debaixo da caraça de nariz arrebitado do ex-presidente foi: “VOCÊ COMPRARIA UM CARRO USADO DESTE HOMEM?”

O resultado foi o que se viu.

Mal comparando, você compraria um carro usado do Eurico Miranda? Do Paulo Maluf? Do Delúbio Soares? Do... Deixa pra lá.



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